Exercício Crítico #2 – Método Crítico?

Sempre aparece para mim cursos ou posts de pessoas que dizem ensinar um método que permitiria com que você analise criticamente qualquer filme. Há pessoas que acreditam nisso, que realmente exista um metodo critico e que você pode esquematizar uma analise de um filme. Bom, eu não sou uma dessas pessoas e o Exercício Critico de hoje é para discutirmos isso.

É muito comum alguns críticos citarem essa frase de André Bazin quando estão falando da sua função e não vou fugir a regra, pois a considero uma ótima definição, Bazin diz que ““A função do crítico não é trazer numa bandeja de prata uma verdade que não existe, mas prolongar o máximo possível, na inteligência e na sensibilidade dos que o leem, o impacto da obra de arte.” Partindo dai pensemos , se um filme é uma obra de arte e cada filme é diferente dos outros, como podemos colocar todos em uma caixa e analisar sobre a luz de um só método? Como podemos prolongar uma experiência se adequarmos o pensar dessa obra em um só esquema? De que vale sistematizar um “método” se a principal ideia da obra – te impactar de alguma forma – for um exercício robótico e sem emoção? Inclusive acredito que venha dai a felicidade das pessoas de escreverem criticas negativas. Elas parecem se soltar mais desses “métodos” e deixam o texto fluir com mais naturalidade, como que se para falar mal de um filme pudessem se desvencilhar de algumas de suas próprias amarras. Isso acaba por trazer um outro problema: a dificuldade de escrever sobre filmes que gostam. Por tentarem adequar um bom filme em um (mal) “método” acabam por não conseguir nem usufruir de fato da experiência de assistir um filme. A partir daí é claro que não irão conseguir prolongar os impactos, afinal, nem mesmo o crítico foi impactado ao ponto de esquecer que tem um método de análise.

Talvez seja a lógica do mercado e do consumo, de que tudo tem que ser muito bom ou muito ruim. Um crítico foge dessa logica e entende que nem todo o filme é muito bom, nem todo o filme é muito ruim, e muitas vezes um filme não vai ser nem bom e nem ruim. Sim, existem filmes que não conseguimos avaliar, terminamos ele e nem sabemos se gostamos ou não. O que é positivo, o impacto causado ali foi tamanho que nada do que você planejava ou estava esperando daquela obra te preparou o que você viu.

Talvez esse seja o meu pensamento por causa dos autores e críticos que tenho como referência. Para mim, o cinema é muito mais do que pura avaliação. O cinema é sentir, é se construir, é ver algo que te mude de alguma forma, não um método mecanizado.

Euller Felix

Cientista Social, pesquisador e crítico de cinema. Um dos Organizadores dos livros "O Melhor do Terror dos anos 80" e "O Melhor do Terror dos anos 90", ambos publicados pela editora Skript.

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