Il sol dell’avvenire

“Il sol dell’avvenire”, novo filme de Nanni Moretti me deixou fascinado. Já havia gostado do último filme dele que assisti, “Tri Piani”, mas não estava esperando gostar o tanto que gostei desse novo. Antes de continuar uma explicação sobre o título do blog e do filme: sempre gosto de colocar o título brasileiro dos filmes, mas nesse caso optei em deixar o título original já que o brasileiro não faz sentido com o filme e nem do significado dele com a história. Il sol dell’avvenire traduzido seria “o sol do futuro” e o termo (que inclusive é pixado no início do filme) é parte de uma música de resistência italiana. No Brasil o título escolhido foi (sabe-se lá o motivo) “O Melhor está por vir”.

Fischia il vento e infuria la bufera
Scarpe rotte eppur bisogna andar
A conquistare la rossa primavera
Dove sorge il sol dell’avvenir
A conquistare la rossa primavera
Dove sorge il sol dell’avvenir

Dada essa pequena explicação vamos ao filme: vemos a história de um diretor de cinema chamado Giovanni (interpretado por Nanni Moretti) que está em fase de realização de um filme sobre o Partido Comunista Italiano em meio as turbulências políticas que o socialismo e a União Soviética enfrentou por conta das tentativas de expandir seu poder de influência. Enquanto ele está realizando o filme vemos também a sua relação com a esposa e também produtora Paola (Margherita Buy) que está passando por uma terapia para conseguir criar coragem de se separar.

O filme de Moretti passa por diferentes caminhos, o diretor tem suas manias enquanto diretor que não aceita ser contrariado, não aceita que seja discutido forma cinematográfica, estilo ou estética em seus filmes. As coisas devem ser feitas da forma que ele quer e ponto final, sem espaço para discussões. O irônico é que quando ele visita o set de um filme que Paola também está trabalhando como produtora. Ele questiona tudo o que vê do ponto de vista moral e de como a arte deveria se colocar diante de diferentes questões estéticas, morais e éticas, onde para ele o filme deveria contribuir para o debate. O filme que ele visita o set é de ação, há mortes e tiroteios, e ele não parece entender o significado que aquilo tudo tem. Para ele é inadmissível que uma cena não tenha ou não busque ter esses significados. Em uma das cenas há um acontecimento hilário: ele para a gravação da cena final por uma noite inteira para discutir as implementações estéticas daquela cena de execução, querendo ligar até para Martin Scorsese para ouvir a sua opinião sobre o assunto.

Há outra cena hilária no filme: a reunião de diretor e produtora com produtores da Netflix. Ali há um embate sobre o que é o cinema, o que deve ser o cinema e como o cinema deve ser feito. As caras e bocas que Giovanni faz ao ouvir como o seu roteiro e história deveriam ser construídos valem todo o filme.

Na verdade, todas as expressões e jeitos do diretor valem a pena o destaque. Os rituais, as músicas, as indignações, tudo contribui para que o filme seja divertido e reflexivo.

Esse filme felliniano (pensando no Oito e Meio) de Moretti só não figurou na lista dos meus filmes favoritos de 2023 por não ter tido acesso a ele no ano de seu lançamento (chegou agora no inicio de 2024 no Brasil), mas acredito que ele vai aparecer na lista de 2024. Começamos o ano bem.

Euller Felix

Cientista Social, pesquisador e crítico de cinema. Um dos Organizadores dos livros "O Melhor do Terror dos anos 80" e "O Melhor do Terror dos anos 90", ambos publicados pela editora Skript.

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