Alguém me vigia

Poucas obras no cinema me fazem ficar tão vidrados na frente de uma dela como as obras de John Carpenter. De todos os diretores do cinema (de horror e no geral), Carpenter é o que mais gosto de revisitar. Aproveitei o final de semana para revistar um de seus filmes que mais gosto: Alguém me vigia, de 1978. 

A premissa do filme de Carpenter me lembrou uma outra obra do cinema de horror que muitos devem conhecer e apreciar: As três máscaras do terror, de 1963, do diretor italiano Mario Bava. O filme de Bava é uma antologia com três histórias curtas, uma delas se chama O Telefone, em que vemos uma mulher sendo atormentada por ligações que colocam sua sanidade a prova. 

Em Alguém me vigia, Leigh (Lauren Hutton) se muda para um luxuoso apartamento e busca começar uma nova vida na cidade. Logo de cara, junto com a nova moradia, consegue também um novo emprego e novas amizades e paqueras. Mas, tudo começa a desmoronar nos próximos minutos do filme. 

Leigh começa a receber ligações e presentes de alguém que está vigiando a sua casa e a sua vida. Cada vez que ela tenta descansar um pouco o telefone toca, cada vez que ele acredita que está bem, algo acontece. E tudo isso, descobrimos depois, faz parte de um plano doentio. 

Mas vale algumas palavras sobre a personagem de Leigh. Ela é uma mulher independente, que não se subjulga a ninguém. Muito bem resolvida consigo mesmo, sabe o que quer e o que não quer. Essa personagem forte é quase uma Laurie Strode que vemos nos filmes Halloween. Principalmente o de 1978, de Carpenter. Inclusive, não é coincidência que ambos os filmes tenham saído na mesma época. 

Leigh dá vida a uma personagem que, mesmo em uma situação de extremo desconforto, não nos faz sentir pena. A força que ela aparenta ter parece nos dar um indicativo de que ela vai ficar bem. 

Desconforto é uma palavra chave nesse filme. Em todos os momentos nos sentimos vigiados junto com Leigh. Não vemos quem, mas sabemos que alguém está nos olhando. Carpenter nos envolve de uma forma surreal. Mesmo quando não há indicativos de que a personagem central do filme está sendo vigiada, ficamos apreensivos e angustiados. 

No filme você não chega a questionar a sanidade daquelas pessoas, mas questiona tudo e todos que estão em volta da personagem principal. Não se sabe quem está vigiando Leigh, nem os motivos, pode ser literalmente qualquer pessoa. 

Isso é algo interessante nesse filme. O vilão/observador não tem uma motivação específica. Não conhecia Leigh antes. Ele simplesmente faz aquilo para se divertir. É quase aquela história de que podemos nos deparar com um assassino em série a qualquer momento da nossa vida, e, o fato de sair desse encontro vivo é mera sorte. 


Johh Carpenter sempre conseguiu me deixar animado assistido aos seus filmes. Desde Halloween, passando por O Enigma de Outro Mundo, Eles Vivem e A Beira do Abismo. Todos esses filmes estão na minha lista de filmes essenciais do cinema. Nessa revisão entrou mais um. Alguém me vigia é uma obra prima.

O filme está disponível na Darkflix para quem quiser assistir.

Euller Felix

Cientista Social, pesquisador e crítico de cinema. Um dos Organizadores dos livros "O Melhor do Terror dos anos 80" e "O Melhor do Terror dos anos 90", ambos publicados pela editora Skript.

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