Aftersun

Quando vejo um filme, às vezes, eu termino e fico sem entender se gostei ou não do que acabei de assistir. Claro, há questões práticas, planos, formas em que as cenas são filmadas, diálogos e esses elementos que podemos analisar se foi ou não bem colocado e utilizado ali naquela obra. Mas para um filme ser bom precisa de mais do que dominar as técnicas cinematográficas. Há também momentos em que eu só descubro se eu gostei ou não de um filme quando tô aqui, escrevendo sobre ele. Talvez esse seja o maior motivo de eu ter um blog e escrever sobre cinema. É uma busca de tentar compreender aquilo que vi e também sobre um pouco de mim.

Nesse sentido, há também filmes que assim que termina eu sei que gostei dele, mesmo não sabendo explicar o motivo de eu ter gostado, eu sei que gostei. Esse é o caso de “Aftersun”, filme de Charlotte Wells e que chegou nos cinemas e na plataforma de streaming da Mubi.

No filme vemos a história de um pai, Calum (Paul Mescal) e sua filha, Sophie (Frankie Corio) passando alguns dias juntos em um resort. E é isso que vemos durante o filme, a conveniência dele durante este período, com algumas incursões na vida adulta de Sophie que está revivendo o passado através de filmagens da viagem.

Em uma primeira vista o filme pode ser sobre essa viagem dos dois, mas quando se olha mais atentamente vemos um filme sobre a tentativa de construção e reconstrução de laços entre um pai e sua filha. Não sabemos ao certo o que aconteceu antes para que a relação dos dois esteja passando por momentos difíceis, no entanto, podemos supor que isso está acontecendo por causa da separação entre Calum e a mãe de Sophie. E mesmo que pareça que os pais tenham uma relação cordial, isso parece, de algum modo, afetar a criança.

Mas, acredito que o que transforme “Aftersun” em um filme emocionante é que vemos que as duas pessoas da relação estão se empenhado bastante para que ela funcione. Tanto o pai, que faz de tudo para que aquela viagem seja algo divertido para a criança, quanto Sophie, que tenta sempre perdoar os erros que o seu pai comete durante a viagem.

Acima de tudo “Aftersun” é um filme sobre amor. Não é uma obra sobre pessoas perfeitas e que não erram, é um filme sobre a força que o amor tem nas relações, é um filme sobre o quanto o ato de amar transforma as pessoas e as lembranças que elas tem do passado. Em alguns casos essas lembranças são nostálgicas, com aquele sentimento de alegria só por ver algumas imagens. Em alguns momentos são dolorosas, de saudades, de sentimentos de angústia e de solidão. O amor, assim como as lembranças, as vezes nos machucam, mas em muitos casos também nos cura. “Aftersun” me parece ser sobre tudo isso.

Euller Felix

Cientista Social, pesquisador e crítico de cinema. Um dos Organizadores dos livros "O Melhor do Terror dos anos 80" e "O Melhor do Terror dos anos 90", ambos publicados pela editora Skript.

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