Um Ménage à brasileira

Chegou essas semanas aos cinemas o filme “Ménage” dirigido por Luan Cardoso e que tem no seu elenco o grande amigo e conhecido aqui no Cinefantasy, o querido Francisco Gaspar. Para aqueles que, assim como eu, adoram filmes que misturam elementos do cinema de horror com questões políticas, esse filme é imperdível.


Nas primeiras cenas do filme já temos uma situação um tanto quanto complicada para os personagens, uma mulher morta na piscina. Descobrimos depois que ela era uma garota de programa que estava ali para uma comemoração de três homens. Tudo ia ficar como estava, eles iam abandonar o corpo, mas surge um problema: um dos homens fez sexo sem camisinha, deixando ali seu DNA e a prova de que aquela mulher antes de morrer esteve com alguém.


Há mortes e o filme continua. Não só continua, mas mergulha em um submundo da política onde vemos que a hipocrisia e a falsidade é o que dá o tom e é a principal regra de convivência de todos os personagens.


O filme dialoga muito com a realidade do país e faz lembrarmos do grande filme de Guto Parente, “O Clube dos Canibais”. Tem luta de classes, exploração da classe trabalhadora e todo o tipo de violência direcionada aos pobres do nosso país.


“Ménage” não fala só sobre a questão de classe, mas também de gênero. Afinal, basta lembrarmos que todas as ações do filme são iniciadas após a morte de uma mulher (Elisa Telles).


E toda a história que vemos é a da relação abusiva entre a personagem de Elisa e de Francisco Gaspar. Um misto de abuso de autoridade, de poder e de machismos por parte dos políticos.


Se um filme é produto do seu tempo, “Ménage” é um produto do seu tempo e do seu país. Um retrato atual de um país agressivo contra as pessoas minorizadas e contra as mulheres.

Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Festival Cinefantasy no dia 18 de março de 2022.

Euller Felix

Cientista Social, pesquisador e crítico de cinema. Um dos Organizadores dos livros "O Melhor do Terror dos anos 80" e "O Melhor do Terror dos anos 90", ambos publicados pela editora Skript.

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