Muito comum em cursos ou livros sobre a história do cinema ouvirmos falar sobre os Irmãos Lumière e a chegada do trem à estação, ou da saída da fábrica. Também ouvimos muito sobre Georges Méliès e a sua viagem à lua ou de como ele utilizou a mágica para inovar as suas narrativas. No entanto, infelizmente não é muito comum ouvirmos falar de Alice Guy Blache a primeira cineasta do mundo.
Recentemente Pamela B. Green lançou um documentário chamado “Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo” onde Pamela faz entrevistas e busca demonstrar a importância que Alice Guy Blache tem para a história do cinema. Além de demonstrar o quanto ela foi prejudicada durante toda a sua vida pelo fato de ser mulher.
Escolhi dois dentre os seus diversos filmes para comentar na coluna de hoje: “As Consequências do Feminismo” e “A Fada do Repolho”, dois filmes fantásticos da primeira cineasta do mundo.
“A Fada do Repolho” é um curta de 1896, de aproximadamente um minuto. Nele vemos uma fada andando de um lado para o outro e pegando bebês que estavam nascendo dessa plantação de repolhos. Reparem no ano, 1896, início do cinema e já temos uma obra como essa, com uma qualidade e técnicas impressionantes para a época e o melhor; o primeiro filme dirigido por uma mulher. No documentário sobre a história não contada da cineasta, vemos que esse pequeno curta foi atribuído a outro diretor, gerando um apagamento da contribuição de Alice Guy Blache para o cinema e é impossível não se indignar com isso.
Inclusive, se olharmos bem, é de uma irresponsabilidade com a história do cinema não dedicarmos tanto tempo em estudos e reflexões sobre suas obras, da mesma forma que fazemos com os filmes dos Lumiéres e do Méliès.
Em 2018 muitas pessoas comentaram sobre o filme de Éléonore Pourriat “Eu não sou um homem fácil” que conta a história de um homem que depois de um acidente vai parar em um mundo onde os papéis de gênero são trocados. Bom, essa ideia já foi desenvolvida por Alice Guy Blache em 1906 com “As Consequências do Feminismo”. No filme ela mostra uma pequena sociedade onde os homens cuidam das tarefas de casa, dos filhos e outras coisas, enquanto as mulheres ficam no bar. Alice trabalhou esses assuntos em 1906 e eles foram retrabalhados em 2018. As contribuições da cineastas transcendem qualquer noção de tempo.
Repito aqui a mesma afirmação que fiz na minha coluna sobre “Horror Noire”: a história do cinema não foi feita apenas por homens velhos e brancos. Aliás, é impossível de se imaginar o que seria o cinema se não fossem as contribuições de Alice Guy Blache.
Assistam aos filmes da cineasta que comentamos aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=CYbQO6pwuNs
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 07 de Junho de 2021