A segunda programação da Competição Brasileira de Curtas Metragens do festival É Tudo Verdade é também muito interessante. Assim como na primeira mostra (que você pode conferir meu texto sobre ela aqui) esse segundo programa de curtas tem uma linha coesa entre os curtas. Todos eles discutem, em alguma medida, questões relacionadas a memória e passado. Os filmes que compõem essa programação são: “A Vida que eu sonhava ter” com direção de Eliane Scardovelli Pereira; “João por Inez” de Roberto Arantes; “Coleção Preciosa” de Rayssa Coelho e Felipe Gama; “O Karaokê de Isadora” de Thiago Mendonça e; “Sem Título #7: Rara” de Carlos Adriano.
Cada um dos filmes discute a sua maneira a memória, “A Vida que eu sonhava ter” conta a história de mulheres que passaram por diversas situações de abuso. São depoimentos e histórias que só conhecemos através do áudio contado pelas próprias mulheres, enquanto estamos ouvindo vamos vendo o dia de uma mulher em sua casa. Os depoimentos são tristes na medida em que vamos entendo o que essas mulheres passaram durante a sua vida, mas acaba com um gosto de esperança com a jornada de conhecimento próprio narrado por uma das entrevistas. É algo muito sensível.
O documentário sobre João Cabral de Melo Neto conta a história do poeta através dos olhos de sua filha, Inez Cabral. Somos levados através da narração dela e de imagens registradas pela primeira esposa de João, o íntimo da vida pessoal e familiar do poeta.
Em “Coleção Preciosa” temos uma ode ao cinema através dos olhos do falecido colecionador bahiano Ferdinand Willi Flick. Através dos depoimentos de sua filha e revistando itens de sua coleção vamos entendem um pouco da sua história e vendo como se desenvolveu sua paixão pelo cinema.
Se até aqui estávamos no passado “O Karaokê de Isadora” nos joga de novo no presente, observamos o cotidiano de uma criança que está tendo que lidar com a pandemia e todas as problemáticas envolvendo essa crise. O choro dela quando bate a saudade dos amigos talvez seja o de todos nós.
Em uma aula de história do cinema que eu frequentei o professor disse “chega um momento em que todo cinefilo se depara com Ozu” e isso é um fato. Em algum momento das nossas vidas, nós que adoramos e estudamos cinema nos deparamos com a linda obra de Yasujiro Ozu. “Sem Título #7: Rara” é uma homenagem a Setsuko Hara que foi atriz de muitos filmes de Ozu.
A segunda programação de curtas é tão boa quanto a primeira, tanto na qualidade dos curtas selecionados, quanto na coesão de diálogos que eles nos proporciona. É maravilhoso de assistir.