De todas as obras que eu assisti no ano passado, e aqui eu estou contando longas, médias, curtas e documentários, o filme de Thomas Webber, “Náusea”, têm um espaço reservado no topo entre os melhores. Ele é um curta tão bom que foi exibido durante a décima edição do Cinefantasy e recebeu o prêmio de Melhor Curta Amador.
Basicamente o curta relata uma história de uma jovem que está sofrendo abusos e acaba, dentro de sua cabeça, transformando toda aquela situação em uma narrativa fantástica de horror. Ela acaba transferindo aquelas situações horripilantes em situações fantásticas e, com certeza, quem viu o curta ficou alguns minutos sem conseguir respirar direito em algumas cenas.
O horror sempre utilizou os traumas como ponto de partida para diversas discussões. Recentemente os filmes do cineasta Ari Aster, “Hereditário” e “Midsommar” partem exatamente de um trauma para desenrolar a história. Em “Náusea” o trauma não é o ponto de partida, mas sim o de chegada. Vemos que a jovem utiliza toda a narrativa que criou na sua cabeça para conseguir se levantar e ir contra os abusos que estavam acontecendo com ela. Quando nos é mostrado o que aconteceu e montamos todas as peças que foram mostradas durante todo o curta, vemos todo o horror que ela estava enfrentando e que aquilo é bem pior do que qualquer narrativa fantástica poderia proporcionar.
O curta de Webber figura entre os meus melhores assistidos de 2020 por ser uma obra que consegue misturar muito bem tudo aquilo que eu admiro no cinema. Uma boa história, discutir questões sociais relevantes na época em que foi produzido e ótimas cenas de horror.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 08 de Fevereiro de 2021.