Iniciando agora a série “Dialética Crítica” onde vou conversar com alguns críticos de cinema, pesquisadores e cineastas sobre questões que considero importantes para pensar o cinema. Todas as questões que faço para os entrevistados são frutos de conversas que tive anteriormente com eles, críticas ou artigos deles que tenha lido, ou qualquer outro contato prévio que eu tive durante a minha vida com a produção deles.
Hoje converso com o professor e critico Marcelo Lyra, que eu tive o prazer de assistir um curso ministrado por ele e ter diversos diálogos sobre a história do cinema no MIS-SP.
Entrevista
Euller Felix: Você ultimamente têm trabalhado mais como professor do que fazendo crítica, isso aconteceu pela constante perda de espaço que a crítica anda tendo nos ambientes jornalísticos tradicionais?
Marcelo Lyra: Eu me descobri como professor, é uma alegria enorme poder compartilhar com os alunos tudo que aprendi em 20 anos de profissão. Então isso tem absorvido todo meu tempo por conta das constantes pesquisas para criar novos cursos e aperfeiçoar os já existentes. Assim eu não tenho mais corrido atrás de publicar textos críticos. Quando sinto necessidade de escrever sobre algum filme, publico na minha página do Facebook. Mas também não tenho sido procurado por publicações jornalisticas ligadas ao cinema, como acontecia com frequência até dez anos atrás. O espaço para crítica de cinema caiu bastante nos meios jornalísticos.
Euller Felix: Ao mesmo tempo em que vemos pessoas importantes para a crítica perdendo o seu espaço nesses ambientes tradicionais temos a proliferação de espaços e blogs na internet que se propõem a pensar o cinema criticamente, como você vê esse movimento migratório do físico para o virtual que já ocorre faz tempo?
Marcelo Lyra: Essa migração ocorre em outras áreas do cinema também. As videolocadoras perderam espaço para os streamings, livrarias perderam espaço para os e-books. É triste porém inevitável. O maior problema é a pulverização. Há muita coisa para ler, muita crítica, muita informação. Deixou atual aquela frase do Caetano Veloso na música “Alegria. Alegria”, que dizia “O Sol nas bancas de revista me enchem de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia?”. Me sinto exatamente assim. Com muita alegria pela democratização da informação, mas com muita preguiça de procurar o que realmente vale a pena no meio de tanta coisa. Creio que com o tempo o que é realmente bom vai se cristalizar e o que não vale a pena vai sumir. A maioria é muito superficial, muito rápida, pouca gente realmente vai além do óbvio.
Euller Felix: Você dá diversos cursos, entre eles o da própria crítica de cinema. Como professor, o que você percebe em relação aos novos críticos?
Marcelo Lyra: A maioria é muito superficial, muito rápida, pouca gente realmente vai além do óbvio. Muito Youtuber falando pouco sobre muita coisa, muita reportagem que está mais interessada nos atores do que no conteúdo. Mas se garimpar bem você encontra algumas pessoas interessantes para ler. O importante é valorizar esses, seguí-los, recomendá-los aos amigos. É importante que as pessoas sérias e dedicadas sejam destacadas nesse mar de informações.
Euller Felix: Lembro de você ter comentado que não gosta de tirar fotos com cineastas para que possa escrever o que realmente achou dos filmes. Como você vê e qual é a importância da relação crítico e cineasta?
Marcelo Lyra: Isso é comum em sites, blogs e youtubers novos. Vira coisa de fã. Publica foto, selfie abraçado com o ator ou atriz do filme. Que credibilidade vai ter a crítica, o comentário. Tem gente que acha legal, mas eu acho o fim da picada. O cara publica a selfie e se acha amigo da celebridade. Nas entrevistas coletivas fica só sorrisos, concordando com tudo que a celebridade fala. Só serve para impressionar os amigos. Na real joga o profissionalismo lá embaixo. Quando vejo isso, cancelo a pessoa na hora. A gente tem que manter o distanciamento, respeitar nosso leitor procurando dar a melhor informação, não a que agrada os assessores de imprensa, os distribuidores.
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