24ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Uma distopia é um lugar imaginário onde se vive em um estado de extrema repressão. Já vimos diversos filmes retratando essas realidades, desde “Mad Max” (todos) até o “1984”, filme baseado na obra de George Orwell, entre outros diversos exemplos. Mas se tem uma coisa que podemos dizer sobre a obra “Voltei!” de Ary Rosa e Glenda Nicácio é que definitivamente ela não é uma distopia, o que há ali é um retrato fiel dos últimos acontecimentos do nosso país.
Alayr e Sabrina estão esperando uma votação que pode ou não mudar os rumos que o país vem tomando. A votação é se o governo totalitário chamado de “Governo do Disparate” vai continuar no comando do país ou não. Como boa parte da população está sem luz, resta apenas um radinho de pilhas para ouvir a votação.
De cara já fica muito difícil caracterizar essas situações como distópicas. Vale lembrar que o Amapá ficou vários dias sem energia.
Durante a votação para a interrupção do governo do Disparate, Fátima, a irmã de Alayr e Sabrina que até então era tida como morta pelo governo retorna à casa. No início, pela atmosfera e a sinopse do filme pensamos se tratar de uma visita vinda do mundo dos mortos, depois descobrimos que, na verdade, ela havia sido sequestrada pelo governo e mantida em um campos de tortura e trabalho forçado. O que aliás é bem mais assustador do que a alternativa anterior.
O que temos a partir daí são monólogos das três mulheres refletindo sobre os acontecimentos e a história do país, todos acontecimentos dos anos 2030 narrados por elas faz automáticamente pensarmos no que está acontecendo hoje. Os aumentos desproporcionais de alguns produtos que faz também aumentar os custos para sobreviver, as violências que a população está sofrendo por parte do governo, como o caso das pessoas morrendo por falta de oxigênio em Manaus. A repressão contra a classe artística que o governo vem fazendo desde o início da gestão, não dá para caracterizar isso como eventos de um mundo distópico.
Infelizmente “Voltei!” é um filme atual. É uma obra que consegue nos trazer imagens somente a partir dos diálogos, é um filme que te deixa triste e pensativo sobre umas das frases mais faladas durante a história, “o Brasil machuca” e vêm nos machucando todos os dias.