Em 2017 George A. Romero deixou esse mundo. Obviamente muitos lamentaram a sua morte, lembro de um post de Jordan Peele no Twitter no dia da morte de Romero onde Peele destacou a importância do cineasta e da obra “A Noite dos Mortos Vivos” pelo tratamento que ele deu ao personagem Ben, que foi interpretado por Dwayne Jones.
“A Noite dos Mortos Vivos” foi lançado em 1968 e segundo a autora do livro “Horror Noire – a representação negra no cinema de terror” Robin R. Means é um “filme de terror com negros” por ser um filme com a representatividade de um homem negro, mas que não foi dirigindo por um. O filme foi lançado em um contexto político bem conturbado. Martin Luther King tinha acabado de ser assassinado e se pararmos para pensar na obra de Romero, Ben sobrevive a todo custo a noite em que os mortos voltaram à vida para no final ser assassinado por um grupo de homens brancos armados que estavam caçando os zumbis.
Para aqueles que ainda hoje dizem que o cinema não é político, eu não sei como conseguem assistir esse filme sem fazer nenhuma correlação com a sociedade.
Um dos maiores méritos do filme é a forma não estereotipada do personagem de Ben e claro, o fato de ele não ser o primeiro a morrer, algo que era muito comum de acontecer com os personagens negros.
“A Noite dos Mortos Vivos” é um excelente exemplo de uma obra de horror que discute e dialoga com os acontecimentos do período em que o filme está sendo produzido. E mesmo que este não seja o intuito do filme ou do cineasta, elas vão sempre estar presentes na obra.
Romero não só conseguiu ressignificar os zumbis com arquétipos que encontramos facilmente nas obras do gênero até os dias de hoje, como também propor discussões para a sociedade que eram importantes e necessárias na década de 1960 e não deixaram de ser importantes ainda nos dias de hoje. Definitivamente é um filme que não envelheceu um dia sequer.
Antes de encerrar a minha coluna de hoje é bom lembrar que estão abertas as inscrições para a décima primeira edição do Cinefantasy e essa edição marca a estreia da Mostra Fantastic Black Power, uma mostra de Curtas Metragens exclusiva para realizadores negros e negras.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 26 de Janeiro de 2021.