Que o Mark Cousins entende de cinema é algo incontestável. Tanto os seus filmes quanto os seus livros nos mostram um profundo conhecimento da história e da linguagem do cinema. E nesse ano ele está na programação do Festival É Tudo Verdade com o seu filme “A História do Olhar”, que mostra o quanto a sua vida está relacionada e basicamente é uma vida graças ao cinema e todas as experiências do seu olhar.
Em linha gerais e de forma bem resumida: o filme mostra o dia anterior da cirurgia que Mark Cousins fez em seu olho, suas reflexões acerca do que já viu, da importância do que viu e, principalmente, como o fato dele ter conseguido assistir os filmes tem impacto na vida dele. O interessante aqui é que Mark faz tudo isso deitado em sua cama, enquanto reflete e nos mostra imagens que foram representativas em sua vida.
No filme, mais uma vez vemos a importância e o quanto Mark entende de cinema, passeamos por uma parte da história do cinema, com filmes que foram importantes na trajetória do olhar dele e de como, aqueles filmes influenciaram ele a ser a pessoa/cineasta que é.
E não só isso, “A História do Olhar” me parece ser um prato cheio para aqueles que adoram estudar a crítica e a analise de filmes. Mark quando fala dos filmes analisa as suas cores, os movimentos e a importância de cada detalhe das cenas dos filmes mais relevantes de sua memória. É basicamente uma aula, em pouco mais de 90 minutos, sobre como o olhar detalhista e carinho, cheio de subjetividade, é um dos maiores atributos para quem quer assistir um filme e senti-lo realmente como uma obra que toca a sua vida.
Nesse caminho o filme fez uma reflexão e que me deixou pensando por um tempo após o fim do documentário: se hoje eu não conseguisse mais ver nada, que filmes teriam uma imagem viva em minha memória? Fiquei divagando sobre isso e logo me veio a mente alguns filmes de horror, graças a minha ligação com o gênero. A título de curiosidade eles foram: a cena de abertura do “A Meia Noite Levarei sua Alma” do José Mojica Marins, o início de “Suspiria” de Dario Argento, e duas obras maravilhosas de John Carpenter, a cena da luta em “Eles Vivem” e a do exame de Sangue em “O Enigma de Outro Mundo”, filmes que com certeza estão entre os mais importantes da minha formação como pessoa e cinéfilo.
O que Mark Cousins faz em “A História do Olhar” é nos mostrar a beleza de ver os filmes e o quanto aquelas imagens em movimento estão interligadas com os momentos de nossa vida. É um ode ao cinema, e principalmente, ao que ele representa na vida das pessoas que tem uma paixão por ele.