Um detetive que começa a investigar uma situação suspeita, uma mulher fatal que chega e quase leva esse homem a morte e uma trama de investigação. Esse é basicamente o escopo de qualquer filme noir. Além, é claro, do claro-escuro muito representado e eficiente nas filmagens em preto e branco.
Desde a primeira metade do século XX, o cinema convive com os filmes noir. Seja com “Falcão Maltês”, 1941, de John Huston. Passando Orson Welles com o seu clássico “A Marca da Maldade”,1958. Roman Polanski dirigiu o filme “Chinatown” em 1974. Enfim, muitos foram os filmes e diretores que fizeram os filmes noir (não citei, mas é claro que não esqueci de Nicholas Ray e Billy Wilder). Todo esse pequeno panorama para chegarmos até “Caminhos da Memória”, novo filme de Lisa Joy que estreou recentemente no circuito de cinemas e chegou a pouco tempo no serviço de streaming e que se apresenta como um filme de ficção científica com uma narrativa e estilo de filme noir.
Acompanhamos a vida de Nick (Hugh Jackman) que é um especialista em interrogatório. Nesse mundo que estamos vendo é possível que as pessoas acessem e revivam as suas memórias, como se novamente estivessem passando por tudo aquilo que já viveram e isso vira o negócio de Nick, que não só trabalha para a promotoria fazendo interrogatórios como também de forma particular para pessoas que querem reviver algum momento de sua vida. Ele encontra Mae (Rebecca Ferguson), que procura sua chave e decide pagar para vasculhar sua memória para saber onde perdeu. Nick e Mae se apaixonam e começam a se relacionar, o problema é que Mae desaparece sem deixar nenhum rastro e isso deixa Nick desesperado.
O pano de fundo dessa história merece destaque: estamos em algum momento do futuro onde as geleiras derreteram e uma parte das cidades estão submersas. Claro que há um comentário político/social em relação a isso, uma divisão de classes onde as pessoas mais pobres estão nos lugares mais submersos e perigosos, enquanto os endinheirados estão nos lugares secos e longe de qualquer perigo. Esse é um pano de fundo de toda a história, mesmo quando não há citação ou uma relação estrita com esse fato, ele está ali presente.
Ouvimos durante todo o filme a narração em off da personagem de Hugh Jackman, ela nos conduz durante todo o filme pelos fatos importantes da história. Vemos através desta narração ele percorrendo os “caminhos” de sua própria memória para encontrar os vestígios de onde poderia estar Mae. Através dessa narração e por alguns diálogos também percebemos o quanto Nick está obcecado em encontrar a mulher que ama, não importando as inúmeras consequências que isso pode acarretar para ele ou sua vida de um modo geral.
Mas, apesar de ter uma história interessante, com uma linguagem e estilo que particularmente me agrada, não entendi o motivo do filme ser tão grande (cerca de 2 horas e 28 minutos), em muitos momentos a história parece se arrastar de forma penosa, deixando cansativa toda aquela narrativa. Mesmo com os elementos fascinantes de alguma forma, ainda ficamos ansiosos para que tudo aquilo que estamos vendo termine logo.
Lisa Joy tem muita competência, isso é indiscutível. Espero vê-la em outros trabalhos, ela ainda tem muito o que nos mostrar.