Uma das obras que eu acabei perdendo e não vi durante a minha maratona de filmes indicados ao Oscar desse ano foi “Quo Vadis, Aida?”, da diretora Jasmila Žbanić. Por felicidade o filme veio para o Festival do Rio e eu consegui assistir-lo no Telecine Play.
Em 1995 aconteceu o massacre de Srebrenica, na Bósnia. E “Quo Vadis, Aida?” trata exatamente desse evento histórico. Quem conhece a história real sabe o final trágico desses acontecimentos e fica angustiando durante todo o filme. O sentimento não é diferente para quem ainda não estudou a história que deu origem ao filme. Desde a primeira cena das pessoas no galpão de refugiados somos colocados em uma situação de corrida pela vida. Não conseguimos nos desvincular da sensação de perigo e muito menos de que algo ruim vai acontecer a qualquer momento. É uma atmosfera agoniante.
Um parênteses aqui, recentemente assisti ao filme “Redacted” do Brian De Palma que entrou na plataforma do Mubi e o coloquei como um dos melhores filmes de guerra já feitos, pela sua abordagem nítida, crua e cruel de eventos relacionados a uma guerra. “Quo Vadis, Aida?” certamente entra também nessa minha pequena listinha de melhores filmes de guerra. Digo isso pois para mim é muito difícil assistir um filme e separa-lo de um contexto e mensagem(mas também amo filmes de comédia pastelão para rir no fim de uma noite), principalmente quando se trata de filmes de guerra. Qual o sentido de uma guerra? Quem realmente começou essa guerra? Essas pessoas responsáveis estão lá na luta ou estão seguras em algum escritório muito longe dos locais de conflito? Qual o sentido dessa guerra? Essas e outras perguntas são fios condutores para mim considerar um filme de guerra bom ou não.
Todas essas perguntas aparecem de alguma forma no filme de Jasmila Žbanić. As personagens estão em uma base militar da ONU e eles não conseguem proteger ninguém ali. Em um determinado momento o general tenta contato com alguém do escritório da organização e nem mesmo se dão ao trabalho de atender a ligação dele, quando atendem dizem que os responsáveis ou as pessoas que poderiam fazer alguma coisa por eles estão todas de férias. Não há o que fazer. A morte para muitos ali e iminente e ao mesmo tempo em que não aparecem os responsáveis, da a sensação de que todos ali tem uma parcela de culpa naquela situação.
Seguimos Aida (Jasna Đuričić) por quase dois dias na tentativa de salvar sua família da morte. Não há calma para ela e nem para quem assiste ao filme. A cada não que ela recebe parece que é um não para nós também. O que faríamos nessa situação? Como reagiríamos a tudo aquilo? Um dos elementos mais importantes no cinema é a identificação do publico com o filme que ele assiste, isso é fundamental em filmes de suspense, terror e de romance, mas aqui, nos filmes de guerra também. O desespero que Aida é submetida nós também vivenciamos e agonizamos.
Muitos são os filmes que passam pela cerimonia do Oscar, são vencedores e no mesmo ano já esquecemos que ele existe, não gosto e nem acredito que há como fazer previsões quando o assunto é cinema, mas acredito que “Quo Vadis, Aida” não será um desses filmes esquecidos. O grande e muito conhecido crítico de cinema Roger Ebert disse na introdução do livro A Magia do Cinema que “O cinema é, entre todas as artes, aquela que tem o maior poder de empatia, e bons filmes farão de nós seres melhores”, e esse é sobretudo um bom filme.