Está acontecendo no canal e na plataforma de streaming do Telecine o Festival do Rio deste ano. Na programação temos diversos filmes que estavam presentes na última premiação do Oscar, como por exemplo, “Druk: Mais uma rodada”, “Quo Vadis, Aida?” e “Bela Vingança”. Assisti a “Edifício Gagarine”, filme disponibilizado no dia 21 de Julho no streaming na programação do Festival.
Youri (Alséni Bathily) é um garoto que vive em um prédio que recebeu o nome do primeiro ser humano a viajar pelo espaço, o cosmonauta russo Iuri Gagarin. Sabendo disso acabou criando duas paixões: o espaço e o edifício onde vive. O problema é que com a crise muitos dos edifícios que existiam acabaram ficando sem manutenção, com isso eles começam a não passar mais segurança para quem more lá dentro. Isso faz esses edifícios serem demolidos.
Quando Youri começa a reformar por conta própria o Gagarine, isso acaba criando um efeito positivo na comunidade e nos moradores do prédio. Eles começam a literalmente tomar os espaços e utilizarem os lugares no seu dia a dia. Poderia até criar uma discussão bem relevante para os dias de hoje, sobre a ocupação de espaços públicos. Quando antes viamos as pessoas fazendo seus exercícios do lado de fora, na rua, quando Youri começa a sua movimentação passamos a ver essas mesmas pessoas agora fazendo os exercícios em espaços dentro do edifício. Tomando aquele espaço como seu.
Mesmo com todos os esforços Gagarine será demolido. Por abandono da família e por não ter para onde ir Youri acaba ficando de forma clandestina no edifício. Ele literalmente ocupa um espaço e usa aquele como seu lugar de morada. Aqui é onde talvez esteja a parte mais interessante do filme. A câmera se move como se estivesse em filmes que se passam no espaço, como se ela tivesse flutuando em um lugar sem gravidades.
Algo interessante de ser notado é: quem mora nesses locais que vivem com a ameaça de despejo? No prédio Gagarine vemos imigrantes, pessoas marginalizadas e principalmente pessoas negras e não brancas. Não diferente do que ocorre aqui no Brasil, as pessoas das classes mais baixas são empurradas para longe do centro e em lugares periféricos. Para além das pessoas que vive no edifício, do lado de fora vive uma ocupação, e que logo depois é despejada.
“Edifício Gagarine” parece acertar no formato, mas acaba pecando na história e na forma em que decidiu conduzir sua narrativa. Em todos os momentos da a impressão de que poderia ter algo a mais, parece sempre estar faltando algo de mais substancial ou que precisa ser desenvolvido. É uma pena.