Continuando minha cobertura do 5° Festival Ecrã vou falar de mais três curtas que assisti, eles são: “Febre 40°” de Natália Reis; “Descompostura” que é assinado por Aline Torres, Anadua Coutinho, Márcio Plastina e Victor Alvino e; “O Fim do Sofrimento”, curta grego de Jacqueline Lentzou.
Dois dos curtas são brasileiros. O primeiro, “Febre 40°” é descrito como um curta de “webtesao na era do supercomputador” e me pareceu aqueles clipes antigos da MTV, lembram? Uma música e várias imagens psicodélicas passando. Dentro dessas imagens vemos o erotismo em tempos virtuais. Imagens de relações sexuais, beijos, carícias e de tudo um pouco. Além de frases que descrevem as qualidades do “websexo” e dos prazeres do “webtesao”. É um curta de experimento e de experiências.
O segundo curta brasileiro é “Descompostura” e nele temos a visão de ódio de classes e contra o racismo. Vemos imagens de retratos e filmagens de mulheres negras que olham com raiva e – segundo descrito pela própria sinopse – afronta para as câmeras que as filmam. É interessante observar, ainda mais realçado pelo curta, que nas imagens do período – por volta do ano 1920 – sempre esteve presente o olhar da mulher negra. Ela é a nossa história. Também me fez pensar e transpor isso para os dias de hoje, para as imagens construídas no dia a dia, na TV, nas séries, nos filmes, nos jornais… Como e quem está construindo essas imagens? “Descompostura” não é só um curta bom tecnicamente, mas necessário.
E por último temos o filme grego “O Fim do Sofrimento”, esse é o que mais parece fugir desse recorte que fiz nesse post. Ele parece, a primeira vista, se encaixar mais no anterior. No entanto, ainda assim falo dele aqui. Uma garota chamada Sofia está em pânico e começa a conversar com uma força, ou presença, ou algo assim. Ali ela é informada que vem de Marte, que não pertence ao planeta Terra. Entendemos, junto com Sofia, o motivo dela sofrer tanto por aqui, dela se sentir ansiosa, desesperada e de não pertencimento. É tocante, e nesse momento dialoga muito com o nosso sentimento em isolamento.
Algo em comum entre os três é a sensação de que estamos vendo filmes de invenção, de inquietações, de anseios. São filmes que exalam a experimentação e trazem dentro da poética das imagens as mensagens e significados que nos fazem olhar como estão se construindo o imaginário, as mídias e as relações no mundo contemporâneo.