Robert Eggers é um diretor que tem uma boa quantidade de fãs dentro do universo do cinema de horror, sobretudo por conta do seu melhor filme até agora, A Bruxa de 2015. Depois ele continuou fazendo filmes, O Farol de 2019 que tem um charme por conta de sua história referencial a diversos mitos e imagens, além de ter atuações incríveis de Williem Dafoe e Robert Pattinson e depois o menos interessante de toda a sua filmografia, O Homem do Norte em 2022, que é simplesmente esquecível. Agora em 2025 o diretor continue lidando com o passado, mas com uma criatura muito presente no imaginário popular: os vampiros. Ele decidiu recontar a história de Nosferatu.
Não é uma tarefa fácil. Quem conhece a história do cinema e a história do cinema de horror sabe que esta história já foi contada lá atras, mais precisamente em 1922 por um dos diretores mais importantes de todo o Cinema, F.W Murnau. O filme de Murnau é uma daquelas obras que são fundamentais para a história. A forma como Murnau usou as sombras para causar o horror nas imagens, a atmosfera criada ali é o que podemos usar como exemplo de como se fazer um bom filme de horror. É simplesmente incrível. Além da sombra do filme de 1922, há também o fato de que em 1979 o conceituado diretor Werner Herzog também fez uma ótima refilmagem. Colocando elementos e uma leitura própria daquela obra, o que a tornou uma das mais interessantes do cinema de horror.
Logo, além de ter que lidar com as sombras de que a criatura Nosferatu produz, Eggers tem que lidar com a sombra dos filmes anteriores. Então o que será que ele pode nos mostrar de novo em uma história que já foi tão bem contada anteriormente? Para ter sucesso no filme, acredito eu, ele precisa colocar a sua leitura e o seu olhar de cinema sobre a obra. Precisa ter uma originalidade para não ser simplesmente mais do mesmo.
Em relação a essa originalidade e em como ela pode ser utilizada em um filme que já conhecemos, temos o filme de Herzog como exemplo. Uma das cenas mais iconicas da obra de Murnau é a cena em que a sombra do Nosferatu Conde Orlok (Max Schreck) sobe as escadas. Herzog recria quase a mesma cena só que a sua maneira, agora a sombra do vampiro (interpretado por Klaus Kinski) chega do chão até o andar de cima de uma casa, ele está tentando chegar na sua vítima não pelas escadas, mas pela janela. Eggers também parece recriar a mesma cena ao longo de todo o filme, mas sem sucesso do seu sentido e do horror que ela deveria causar. Na sua tentativa mais interessante ele coloca a sombra da mão de Orlok (Bill Skarsgård) agarrando toda a cidade.
Alias, quando pensamos em Nosferatu, sempre pensamos na manipulação das sombras e da escuridão para a criação do clima de horror que a obra sobre ele essa criatura precisa. Robert Eggers lida bem com a escuridão, consegue criar belíssimas cenas em que o mal está escondido no meio de um local sem luzes. Mas não consegue usar as luzes para criar as sombras e utilizar elas como formas de expressar o horror. Poucas são as vezes em que ele utiliza elas de forma consciente e coerente com a criatura (o inicio do filme é um exemplo), o que acaba atrapalhando o clima necessário para o filme.
O que ele não consegue fazer com as sombras, ele faz com a voz de Orlok. Aliás, a voz dos personagens de Eggers é um elemento bem comum da obra dele e sempre muito bem trabalhado, em A Bruxa e O Farol ele consegue fazer com que as vozes sejam personagens aterrorizantes nas histórias. Aqui o diretor faz a mesma coisa: transforma a voz de Nosferatu em um personagem terrível e amedrontador. Teria sido interessante se ele tivesse conseguido mesclar esse elemento do som com as sombras.
Já a personagem Ellen (Lily-Rose Depp) coloca no filme outro elemento importante da mitologia vampiresca: a questão do sexo. Desde as primeiras cenas da personagem, quando estava sonhando, já entendemos que a questão do prazer seria central na história. Inclusive, desde sempre nas histórias de vampiros (e aqui sendo bem abrangente, pensando desde Bram Stoker passando por Anne Rice e até releituras atuais) a busca pelo prazer é algo que parece ser a natureza destas criaturas. A busca pelo prazer carnal (não apenas o sexo, mas o fato do vampiro ter prazer ao tirar o sangue das suas vítimas) é o que move a história.
Ellen utiliza da busca pela satisfação para dar fim a Nosferatu, entregando prazer e se entregando a ele em um momento de êxtase é a forma como Eggers faz a releitura dos momentos finais da criatura da noite. A liberdade em relação as questões sexuais e de prazer são as partes interessantes da obra de Eggers. E me parece ser ai que reside a originalidade que infelizmente aparece pouco no novo Nosferatu
A presença de Willien Defoe como o médico que conhece das questões sobrenaturais é um dos pontos positivos do filme. Inclusive, parece estar ali para contrastar com a atuação morna de Nicholas Hoult como Thomas Hutter. Sempre que Defoe aparece, como na maioria dos filmes em que ele participa, ele preenche a tela e deixa as cenas mais interessantes.
Vale destacar também outro elemento presente na história de Nosferatu, o fato de que ele carrega uma praga junto com ele. É um dos fatores que ajudam a criar o clima de horror na história. Os ratos arrepiantes, andando de um lado para o outro, a morte presente ali, os caixões indo de um lado para o outro. É outro dos pontos que senti falta na obra de Eggers.
Robert Eggers realiza um filme mediano, por faltar algo que nós sabemos que ele tem: criatividade. Por isso, seu Nosferatu entra para a história dos filmes de vampiros como um filme bom no meio de filmes incríveis. Sabendo do potencial de Eggers é uma pena.