Dahomey, filme da diretora Mati Diop, é uma daquelas obras que nos diz tanta coisa, mas nos faltam palavras para descrever ou expressar algo sobre eles. Isso pois o filme tem aquele fator relevância de assunto, mas também é um filme muito bem construído e esteticamente bem feito. Ele acaba tendo um conjunto de qualidades que nos tira até as palavras.
Dahomey mostra os acontecimentos envolvendo a história dos tesouros devolvidos ao Benin. Tesouros que foram retirados de sua origem pela colonizadora França. Mati Diop nos envolve em discussões sobre a conservação, sobre a importância daqueles objetos e, sobretudo, sobre a importância deles retornarem a Benin.
Mas as discussões acabam se expandindo. E nessa expansão nós, aqui de um país que foi colonizado, escutamos e entendemos muito bem o que aquelas pessoas estão dizendo ali. Isso pois, por sermos também de um país colonizado, mesmo que não pela mesma colonizadora, temos questões semelhantes as que foram levantadas ali naqueles debates.
Cada história possui suas próprias particularidades, mas os procedimentos dos colonizadores são semelhantes. Por isso mesmo, as pessoas que possuem um mínimo de conhecimento histórico, sentem na consciência as semelhanças e um pouco da dor que algumas daquelas frases carregam. O ressentimento também. Tudo parece semelhante, mesmo nas diferenças.
Uma das falas que mais me marcou foi de uma mulher dizendo que, mesmo quando estava ali reclamando, falando, ela tinha que fazer no idioma do colonizador e não no do povo dela. Pensando em nós aqui, que falamos o idioma do colonizador e não dos diferentes povos indígenas que aqui viveram. Mesmo que tenhamos as influências e palavras de origem indígenas e de outros povos que passaram por aqui durante a colonização, ainda falamos o idioma do colonizador.
Dahomey é um dos grandes filmes desse ano, consegue mesmo com uma discussão específica de um país, englobar uma série de questões que são importantes para toda a humanidade.