Existem diretores que os seus filmes, mesmo que eu não goste de seus estilos ou das histórias que buscam contar, são interessantes. Pois eles ao menos dizem algo sobre cinema. São filmes que não existem ali pela simples corrida atrás do lucro, mas sim por uma vontade real deste ou desta diretora de contar uma história. Filmes que expressam essa vontade genuína de dizer alguma coisa sobre o cinema ou sobre o mundo que nos cerca me agradam por si só, pelo simples fato de existirem. Há algo de corajoso aí que vemos pouco no cinema contemporâneo, sobretudo vindo dos Estados Unidos.
Francis Ford Coppola é um diretor consagrado da história do cinema, muitos de seus filmes fazem parte incontestável da história da evolução do cinema, além de fazerem parte da vida cinéfila de muitas pessoas, inclusive a minha. Só o fato de ele ainda estar em atividade, os seus filmes só por existirem, já é um evento importante para qualquer cinéfilo. Ele evidentemente entra nesse grupo de diretores que eu assisto seus filmes, sabendo que vou tirar algo desta experiência.
Seu novo filme, “Megalópolis” é uma fábula sobre o mundo e sobre as relações humanas. E nos é apresentado literalmente desta forma, como uma fábula. O que vemos na história é o arquiteto Cesar (Adam Driver) que possuí o poder de parar o tempo. Ele tem uma disputa com o prefeito da cidade, Cícero (Giancarlo Esposito) por conta de visões sobre como a arquitetura e a vida da cidade deve ser. Ele acaba se envolvendo com a filha do prefeito, Júlia (Nathalie Emmanuel) e a história começa a ficar mais complexa sobre as relações e estruturas de poder a partir de então.
Na verdade, qualquer sinopse que eu tente criar sobre o filme me parece ser simples de mais e insuficiente. Isso pois, por exemplo, citei o poder de Cesar, mas este poder não é tão importante assim. Na verdade, o que me parece ser mais importante em Cesar é a visão de mundo que ele tem, a visão de arte que ele tem, o que ele pensa sobre as relações da humanidade, entre outras coisas. O poder dele é só mais uma peça do quebra-cabeças da sua confusa personalidade e de sua própria história.
A fábula que assistimos vai nos mostrando as relações humanas corruptas. O quanto que as pessoas, mesmo quando fazem parte da mesma família, por conta de suas invejas e sentimentos mesquinhos, passam por cima de todos e de tudo que há de moral para conseguirem atingir os seus objetivos. Me parece que a ideia do filme é representar todas estas mesquinharias humanas e as suas consequências pessoais e sociais.
É um filme sobre essas relações humanas que fazem a humanidade caminhar para trás. Em todo momento vemos o quanto as pessoas podem ser más e sujas para atingirem seus objetivos, sejam eles quais forem, pode ser por vaidade, por poder, ou o que quer que seja. Mesmo que para atingir estes objetivos seja necessário deixar pessoas em extrema pobreza ou passar por cima de limites morais.
E, por ser uma fábula, o final é para mostrar a todas as pessoas as consequências de suas ações. O filme termina com uma lição de moral, com o bem sobrepujando o mal. O filme pode não ter suprido as expectativas de muitos colegas, mas eles não podem negar que está é uma obra que ao menos tenta dizer alguma coisa.
Como é comum em textos sobre filmes destes diretores consagrados, termino dizendo: que sorte a nossa de estarmos vivos na mesma época em que estes diretores estão fazendo seus filmes. É bom demais entrar no cinema e sair de lá tocado de alguma maneira.