Filmes como “Longlegs – Vínculo mortal” de Osgood Perkins são interessantes pelos debates que podemos tirar para além da obra em si. Um dos debates que vi foi sobre qual gênero o filme se insere. Para ser sincero, a resposta me parece um tanto quanto óbvia – é um filme de horror -, mas é interessante observar o quanto as pessoas possuem diferentes perspectivas sobre o filme e, sobretudo, sobre o que é e o que deve ser um filme de horror.
A multiplicidade dos gêneros é uma das coisas que mais enriquecem os melhores filmes de horror, é a capacidade do diretor de misturar formas, narrativas e gêneros dentro de um único filme que faz com que uma obra consiga equilibrar sua trama e os códigos do horror de forma satisfatória com outros elementos de outros gêneros, sejam eles quais forem. No caso do novo filme de Osgood Perkins, vemos uma história policial que, em nenhum momento, deixa de ser um filme de horror. A atmosfera do filme, os acontecimentos e as cenas, tudo ali são construídos como um filme de horror. A diferença é que em “Longlegs”, toda essa atmosfera do horror é somada com uma história policial, o que é importante destacar, não é algo novo, outros filmes já fizeram isso, “Seven” de David Fincher, “O Silêncio dos Inocentes” de Jonathan Demme, entre muitos outros são exemplos da mesma abordagem.
É algo comum dentro do cinema de horror que os filmes caminhem entre os diferentes gêneros. Afinal, o horror está ligado tanto com a questão da atmosfera do filme, quanto com os possíveis monstros, assassinatos, ou outro elemento que pode figurar dentro de uma história do gênero. Esse é só mais um exemplo do quanto as abordagens dentro do cinema de horror podem ser várias, e é por isso que o gênero consegue sempre se reinventar, consegue sempre ser o que mais tem de interessante enquanto obras autorais (e até mesmo comerciais) da história do cinema.
“Longlegs” segue Lee Harker (Maika Monroe), uma detetive em uma investigação sobre assassinatos inexplicáveis. A principio, parece ser um assassino em série, mas tudo vai se complicando com as provas que vão aparecendo. Não há sinal de entrada forçada na casa, mas havia uma carta com símbolos estranhos e a palavra “Longlegs”, e é isso que acaba ligando todos os casos. Tudo isso vai se misturando com traumas familiares e questões pessoas que só enriquecem e deixam a obra com mais complexidade.
Essa complexidade toda nos leva ao personagem de Nicolas Cage, que convém aqui nesse texto apenas elogiar por mais um boa atuação dentro do cinema de horror (Mandy é outro filme do gênero em que ele está muito bem). Parece que o gênero do horror é o caminho de Cage para continuar fazendo bons filmes. A loucura, as caras e caretas, tudo em Cage parece funcionar muito bem dentro de filmes assim.
Para aqueles que ficaram confusos sobre o gênero do filme, me parece que não chegaram ao final dele. Se existia alguma dúvida para alguém que o filme se insere no cinema de horror, mesmo com tantos assassinatos e atmosfera, o final não deixa dúvida nenhuma. Está tudo muito claro ali.
“Longlegs – Vínculo mortal” é um bom filme de horror. Quem é fã do gênero e acompanha ele com muito afinco, vai encontra semelhanças com outros filmes recentes. Há cenas bem próximas de “Hereditário” de Ari Aster, e “A Bruxa” de Robert Eggers. O que, evidentemente, não é um demérito. Elas simplesmente estão lá, podem parecer apenas como referências ou coisas do tipo, mas são tão bem incorporadas dentro da história que, visualmente só colaboram com a atmosfera do filme.
Não chega nem perto de ser o melhor filme de terror dos últimos tempos, mas ainda assim é um bom filme e pode proporcionar diversas discussões interessantes sobre o filme e sobre o gênero como um todo, o que por si só já muita coisa.