Gosto do cinema de M. Night Shyamalan, com raras exceções (não sou tão fã de Vidro, por exemplo), eu considero seu cinema um dos mais interessantes nos últimos anos. Inclusive, mesmo que haja colegas na crítica e cinéfilos em geral que não gostem dos filmes de Shyamalan, eles provavelmente concordariam comigo de que os filmes que ele faz, mesmo os que consideram ruins, possuem um certo “charme” que só um cineasta com um olhar sobre o cinema conseguiria fazer. Só isso já faz com que seus filmes sejam mais interessantes do que boa parte dos lançamentos comerciais que estamos acostumados a consumir. Shyamalan não é o único diretor assim. Eu não sou um grande fã do cinema do Tarantino, do Nolan e nem do Woody Allen, mas quero sempre assistir aos seus novos filmes. Minimamente esses filmes tem algo a dizer, e esse é o tipo de filme que eu gosto de assistir.
E chegamos a “Armadilha”. A história inicial é o que tem de melhor na obra: um assassino está em um show que, na verdade, é uma armadilha para conseguirem finalmente prender ele e resgatar um homem que ele havia sequestrado. Como ele vai sair dessa? É essa a pergunta que fica na nossa cabeça e é isso que move a obra. O filme é uma história de caça, e aqui nós estamos na perspectiva de uma presa/predadora que vai fazer de tudo para fugir do seu destino.
E Shyamalan acerta em não nos entregar muito do Cooper (Josh Hartnett) de início. Entender a sua complexidade ao longo do filme e ver o quanto ele é perverso e calculista deixa o filme mais enriquecido. Inclusive, há uma atuação meio estranha de Josh Hartnett, o que me parece demonstrar que estamos observando um personagem interpretando outro personagem e que, ao longo do filme, cria e interpreta outros personagens. Deixando tudo e toda a história ainda mais complexa.
Nesse sentido, a relação entre Cooper e sua filha, Riley (Ariel Donoghue), parece ser algo extremamente artificial. Para quem está assistindo, parece sempre que ele está interpretando uma figura diferente a cada cena. Não dá para entender bem se a relação entre o pai e a filha é sempre daquela forma, se em algum momento há alguma verdade ali. A única coisa que entendemos é que todas essas personas possuem um único objetivo: se safar e continuar com as suas duas vidas.
“Armadilha” é uma história rica de personagens interessantes. A policial (Hayley Mills) é um exemplo que merece destaque, já que sempre que aparece parece preencher completamente a tela, a história e todo o filme. Da até vontade de saber mais sobre ela, de conhecer mais de suas histórias, de ver mais casos que ela investigou. É uma personagem instigante.
Mas, um problema do filme é quando ele finalmente consegue sair do show, a partir daí o filme começa a desandar. A parte final do filme não tem o mesmo cuidado e o mesmo “glamour” que a primeira parte. Parece que tudo acontece rápido demais para que a história tenha um desfecho. Mesmo que ainda tenha a perseguição, mesmo que vejamos a fuga e tudo mais, como Cooper não está mais confinado, parece que a caçada perde um pouco da graça.
Fora do show Cooper tem um mundo de possibilidades de fugir, não é mais ser um desafio para ele. E isso chega até a desanimar toda a história que vimos até aqui, o que é uma pena. Talvez se tudo fosse condensado no show, o filme seria mais interessante do que foi com as escolhas tomadas pelo diretor.
“Armadilha” tem seus méritos, mesmo que a parte final não seja tão boa quanto o seu inicio. Grandes cineastas, como o M. Night Shyamalan, são competentes o bastante para conseguirem fazer um filme que mesmo quando derrapam em uma parte ou outra, ainda assim são bons filmes.