O bom cinema nacional não foge e nem quer fugir da realidade de seu próprio país. Não há possibilidade de um bom filme nacional existir e acontecer se ele tentar ser outra coisa que não uma expressão do cinema brasileiro. Propriedade de Daniel Bandeira é um destes bons filmes. Podemos ver o Brasil na sua história, na sua direção, nas cenas e tudo que está presente nele.
A história é relativamente simples, mas ao mesmo tempo, complexa em relação as personagens ali. Roberto (Tavinho Teixeira) e Tereza (Malu Gali) vão passar um período em uma fazenda. Pelo que eu entendi, para tentar se livrar dos fantasmas deixados por uma situação traumática vivida por Tereza na cidade. Chegando lá se deparam com os empregados da fazendo revoltados com uma demissão em massa e em busca de seus direitos e documentos.
Tudo acaba escalonando em uma situação de confronto de classes sociais brasileira. De um lado a família rica, dona de toda aquela terra e que mantém os empregados sem direitos e em uma situação em que aparentemente eles estão sempre devendo os patrões. Do outro lado uma população que vive daquela terra há anos e, por conta da condições impostas a esta população, não sabem e não tem o que fazer se aquele seu mundo do trabalho desmoronar.
O filme não é simples. Não existe uma resposta clara. Quem está correto? Quem está errado? Nem acredito que tenha passado pela cabeça dos realizadores do filme de tentar responder essas perguntas. Assim como a própria realidade brasileira, Propriedade também tem suas próprias nuances e complexidades que caracterizam qualquer resposta simples como uma resposta errada.
Nesse mesmo caminho, talvez para montar um panorama de filmes que parecem dialogar entre si, me lembrei de O Clube dos Canibais de Guto Parente e A Jaula de João Wainer. Estes três filmes podem compor um bom ensaio sobre classes, crimes e relações sociais no Brasil. O de Wainer provavelmente vem na minha mente por conta de como e onde Tereza se refugia, mas ainda assim discute também questões sociais do nosso país.
Propriedade se apresenta como um filme que foge do maniqueísmo, das respostas simples e da redução do cinema. É, sobretudo, um filme bom filme brasileiro sobre o seu próprio país. Que bonito é o nosso cinema.