O cinema de horror é o que melhor consegue lidar com a ansiedade e com o luto. Provavelmente por ser um gênero que lida constantemente com a morte. E é este o tema de Fale Comigo, filme de Danny Philippou e Michael Philippou.
Uma mão que comunica com o outro lado é a diversão da festa de adolescentes. Assim que tocam nela e dizem “fale comigo” conseguem vislumbrar um pouco do que tem lá do outro lado. Mas, assim como diz aquela famosa frase: se você olha para o abismo tem que ter cuidado pois o abismo pode olhar para você também. E quando o abismo olha para os personagens do filme ele não fica apenas olhando, como tenta tomar para si um pouco do mundo real.
A festa é de adolescentes, Mia(Sophie Wilde), Riley (Joe Bird) e Jade (Alexandra Jensen) são os personagens principais e aos quais acompanhamos durante pouco mais de uma hora e trinta minutos. Esse outro lado faz de tudo para que Riley participe da brincadeira para que seja morto e fique para sempre lá.
Nesse caso me parece um pouco a história O Iluminado de Stephen King e que foi adaptada para o cinema por Stanley Kubrick. Danny Torrance tinha que morrer dentro do hotel para sempre ficar lá dentro. Aqui, as pessoas precisam morrer enquanto estão em contato com o outro lado para que nunca mais consigam sair.
Lidando com o luto de Mia, a mão/outro lado se utiliza da morte da sua mãe para conseguir convencer Mia de fazer tudo que ela quer. E conseguimos ver muito bem na personagem como ela se sente e está ainda traumatizada com essa sua perda. Inclusive, o filme só existe e caminha por causa desse trauma de Mia.
Alias, discutir o trauma não é algo novo no cinema de horror, mas o tema vem ganhando um grande espaço nos ultimos anos. Inclusive, na Revista Abismu tem um texto interessante do colega Marcelo Miranda sobre o tema. Talvez por isso alguns críticos fizeram a ligação entre esse filme e Hereditário, de Ari Aster. Aliás, a cena em que Riley está possuído também se assemelha e parece ser referencial a uma cena de Alex Wolff no filme de Aster.
O filme consegue representar bem o mundo conectado, das lives e vídeos dos momentos de festas e de diversão em grupo que vivemos hoje. A diversão no filme não é apenas o contato com o outro lado, mas se filmar tendo este contato. Compartilhar não só com as pessoas que estão naquele lugar físico e naquele momento, mas com pessoas em todo o canto do mundo através da internet.
O mundo está conectado. Tudo precisa ser compartilhado. A morte não pode ser uma exceção e precisa também estar dentro desse “novo” mundo.
Com a morte/redes sociais como temas principais da obra, os diretores conseguem fazer um filme sucinto e simples, mas com uma boa história. Fale Comigo é um ótimo exemplar de que um filme não precisa ter três horas para conseguir contar uma boa história.