Alguns filmes nos deixam sem palavras, até mesmo para um crítico às vezes acontece. O filme A Noite do Dia 12 de Dominik Moll foi um destes pra mim. Terminei de assistir ao filme e fiquei um tempo pensando sem ter muitas palavras na minha mente, só relembrando algumas cenas, situações, diálogos, a própria história do filme e, principalmente, o quanto ele expõe um problema muito sério que temos hoje na nossa sociedade.
O filme conta a história de um feminicídio, Clara (Lula Cotton-Frapier) é morta carbonizada ao voltar para casa depois de uma noite na casa de sua amiga. Nós vemos tudo. Ela voltando, depois ela encontrando uma pessoa que não sabemos quem é, essa pessoa atirando um liquido em seu corpo e depois acendendo um isqueiro. Chamas e depois o corpo. A sensação é a pior possível, não podemos fazer nada a não ser olhar aquela atrocidade sendo acometida. Talvez algumas pessoas podem tentar virar os olhos, mas ainda assim a sensação de incapacidade provavelmente deve continuar.
Este crime acontece no meio de uma troca no comando de uma delegacia, e o novo capitão, Yohan (Bastien Bouillon) já tem este caso nas suas mãos logo no primeiro dia no novo cargo. E vemos o quanto ele é impactado por esse crime. Na verdade, vamos observando o quanto este impacto vai afetando a sua vida e a sua linha de investigação conforme o filme vai andando. Ele, depois de ser questionado por Nanie (Pauline Serieys), uma amiga de Clara, começa a perceber o quanto algumas de suas perguntas ou mesmo suposições de quem poderia ser o suspeito de ter cometido o crime está atrelado a um machismo que está dentro dele. Isto pois estas perguntas são praticamente culpabilizando e procurando achar motivos na forma em que Clara vivia para o que aconteceu com ela. Basicamente, o pensamento da policia são aqueles comentários horríveis que os idiotas fazem quando as noticias de casos assim aparecem na mídia.
Algo também que é questionado depois por uma outra personagem é que os homens são os que matam e, são eles mesmos, os responsáveis por investigarem os crimes. Isto se dá pelo fato de que quem foram e são os responsáveis pela investigação da morte de clara eram todos homens. Homens estes que na maioria das interações em conjunto – o famoso clube do bolinha – parecem ser tão nocivos quanto os homens que vemos serem investigados.
Outro ponto que fica muito claro é que todos os suspeitos poderiam ter cometido aquele crime. Cada depoimento mostra o quanto aqueles homens foram/são nocivos a mulher (as mulheres, no geral). Todos ali parecem ter cometido o crime, todos mesmo. Não há como dizer que foi este ou aquele. Parece que foram todos. Alias, o homem que vemos no inicio parece ser uma mistura de todos eles.
Disse que não tinha palavras para este filme, mas acho que encontrei algumas. A Noite do Dia 12 é um filme não sobre uma investigação, não sobre um crime, é uma obra sobre uma situação social. É uma obra que cabe, infelizmente, em qualquer lugar do planeta. Talvez é um dos filmes mais impactantes que eu assisti nos últimos anos.