Nos últimos meses eu tenho me empenhado na leitura de um livro que, para mim, já se tornou um material obrigatório para todos aqueles que querem discutir a história do cinema e a evolução da sua linguagem: um introdução ao cinema underground americano, de Sheldon Renan. Digo que o livro entra nesse “grupo” de livros obrigatórios pois ele nos coloca reflexões e nos mostra a história do cinema de uma forma em que o principal foco são os cineastas que buscaram inovar e inventar formas de se expressar artisticamente dentro dos limites do cinema. Ou seja, pelo fato de sempre tentarem fazer mais, compreender mais ainda o que é aquela arte, responder as questões internas e de seu tempo, expandiram sucessivamente as possibilidades do cinema.
Começo esse texto falando de um livro sobre cinema underground e independente pois estou falando de um cineasta que vejo dentro deste mesmo grupo de artistas: Thomas Webber. Antes de falar um pouco sobre seu novo filme, “O som de lugar nenhum“, cabe algumas palavras sobre como eu vejo e estou percebendo a produção de Thomas. Seu trabalho me parece intimamente ligado com as questões do seu tempo. No curta “Náusea” ele se utiliza da linguagem especifica do gênero de horror para discutir questões como o abuso, o assédio e as questões que assombram a sociedade brasileira. Algo que eu não considero possível ocorrer se o cineasta não compreender as tensões e as problemáticas que permeiam o nosso país.
O curta “O som de lugar nenhum” é feito para responder as questões levantadas durante a pandemia de Covid 19. E não precisamos lembrar aqui que esse período, para os fãs do cinema, foi muito conturbado, já que estávamos impossibilitados de ver os filmes no nosso maior santuário: a sala de cinema. Todos nós acabamos tendo que assistir aos filmes na nossa casa, de diferentes formas, e não conseguindo, talvez, aproveitar toda a complexidade e potencialidades da obra pois não estamos no lugar em que ela deveria ser consumida.
E, ao que parece, Thomas está novamente tentando responder as questões que foram colocadas ali, naquele momento. O filme foi feito “para ser visto no celular” me disse o diretor e uma mensagem antes do inicio do filme. Muitos, provavelmente, vão olhar essa mensagem como uma afronta ao cinema, mas vejo como uma tentativa de testar os limites – tanto do cinema, quanto do diretor – de contar uma história.
É claro que a tentativa de criar e montar um filme para ser assistido em outro lugar que não uma sala de cinema não é algo novo, mas ousado nos dias atuais. E talvez seja o que o cinema realmente precise para continuar existindo e nos fascinando: pessoas ousadas. “O som de lugar nenhum” é um experimento que exige não uma passividade, mas uma ação de que se propõe a assistir ao filme. Vire a tela, olhe ali, procure daquele lado, olhe essa dança e etc. Estamos dançando junto com aqueles personagens do filme, estamos dentro daquele mundo, afinal, ele é o nosso também.