Não lembro se ouvi ou li sobre isso, ou se é algo da minha cabeça, mas repito aqui: se fossemos escrever um livro sobre a história do cinema em dez capítulos, um deles será totalmente dedicado a Jean-Luc Godard, tamanha a sua importância. E podemos ver que a história do cinema e a história de Godard acabam se mesclando e se tornando uma só.
No documentário Godard Cinema, dirigido por Cyril Leuthy vemos a trajetória de um dos maiores cineastas da sétima arte. Talvez o diferencial desta obra e do olhar de Leuthy sobre a trajetória de Godard é que o enfoque seja na parte humana do diretor. Vemos como ele, enquanto pessoa, encarou as diversas mudanças que estavam acontecendo no mundo e como a visão e a prática de Godard enquanto cineasta foi mudada por conta desses acontecimentos.
Para ser sincero, considero o tema “Godard” um dos mais difíceis de expressar em palavras. E muito por conta da sua importância e da sua contribuição para o cinema e para as artes no geral. Afinal, uma arte é composta por diversas influencias de outros campos, e é inquestionável que Jean-Luc Godard teve uma contribuição enorme para a construção de qualquer pessoa que tenha uma relação minimamente comprometida com qualquer forma de arte.
Na verdade, se pegarmos somente o exemplo de “O Acossado” (1960) e discutirmos sobre a sua importância para a linguagem e para a história do cinema mundial, já teríamos material para livros e documentários extensos. Godard tinha (e isso é muito bem representado no documentário de Leuthy) um enorme amor pelo cinema, uma enorme vontade de fazer a arte evoluir e atingir o seu potencial máximo. Ele era, acima de tudo, uma pessoa devotada para a arte em que se comprometeu. Isso, talvez, tenha sido a grande motivação que fez com que o cineasta tivesse inovado tanto a sétima arte.
Inclusive, uma outra contribuição do documentário é o de mostrar Godard não somente como um cineasta, mas também como um grande pesquisador do cinema. Tanto que em determinado momento nos é mostrado uma entrevista em que ele se descreve desta forma. E, se pegarmos sua trajetória, suas obras, não há como questionar essa descrição do seu trabalho.
Godard Cinema é um filme conciso, tem menos de duas horas de duração. Pensando no quanto de importância o cineasta tem, considerei pouco tempo e as informações e fatos narrados ali como muito corridos. Mas, o filme acaba por cumprindo o propósito de nos mostrar um pouco as diversas facetas que Godard assumiu durante a vida e nos mostrar um pouco dos bastidores de algumas de suas obras com entrevistas de estudiosos e atores que conviveram com ele.
Outra sensação muito interessante que o documentário nos mostra é que Godard parecia ser uma pessoa inquieta, e que estava sempre em constante mudança. Mostra também o quanto os eventos políticos impactaram sua visão do cinema. Tenta, mesmo que rápida e resumidamente, exemplificar o quanto o ano de 1968 e as manifestações na França tiveram uma influencia significativa na formação pessoal do cineasta.
Além, é claro, de mostrar como o mundo – tanto o da indústria do cinema, quanto o social/politico – recebeu algumas de suas obras, como por exemplo, o momento em que ele foi questionado com o filme A Chinesa (1967), ou quando tomou uma torta na cara quando lançou o filme Detetive (1985).
Me parece que o filme Godard Cinema é mais para quem já tem um contato com o cineasta, já conhece e já assistiu uma boa parte dos seus filmes e está buscando algo para matar a saudade deste cineasta tão importante e que nos deixou no ano passado (2022). Mas é claro que, se uma pessoa não tiver tanta intimidade com a vida e obra de Godard também poderá se beneficiar do conteúdo do documentário, vai conhecer uma das pessoas mais importantes e influentes de toda a história da humanidade.
No mais, não sei se Cyril Leuthy se sentiu completamente satisfeito com o documentário, nem eu estou tão satisfeito com este texto. Afinal, a importância de Godard não cabe em um filme, muito menos em um pequeno texto como este.