M. Night Shyamalan é um dos diretores mais cultuados do cinema nos dias de hoje. É um daqueles exemplares de que as pessoas vão ao cinema somente por saber que o filme tem a sua assinatura. Antes mesmo de saber da história de uma obra, saber que ele é o diretor já faz uma porção de gente querer ir assistir ao filme.
Isso é também um perigo para os autores e para as pessoas que gostam da obra do autor. Primeiro, todos vão assistir ao filme com uma ideia pré concebida daquilo que quer ver, daquilo que considera o melhor daquele diretor. Também já estão com os olhos atentos aos possíveis erros que são cometidos em algumas obras e vão se repetindo.
No novo filme de Shaymalan eu não fui com nenhuma ideia do que seria a obra – só sabia quem havia dirigido e um ou outro ator -, na verdade, eu havia me esquecido de que ele ia ser lançado e praticamente não vi trailer e nada sobre qual seria a história que eu iria assistir. A única coisa que eu havia escutado e lido era de que seria a obra “mais religiosa” do diretor.
Mas o que me surpreendeu não foi isso. Foi a simplicidade da história e da forma que Shaymalan dirigiu o filme. Basicamente não há nada de mais na história, vemos uma família em uma cabana que recebe a visita de quatro estranhos que dizem que uma daquelas pessoas precisa se sacrificar para salvar o restante da humanidade.
E o que temos no decorrer do filme é esse conflito ético: vale a pena a sacrificar uma vida para salvar a humanidade? Vocês matariam alguém que amam para salvar o restante da humanidade? Esse é o dilema ético e o ponto principal do filme.
Aqui o diretor coloca todos nós de frente com o problema do filme. É aquele tipo de situação que ou já passou pela nossa cabeça ou já vimos uma discussão semelhante em algum lugar desta imensa terra que chamamos de internet. Todos nós nos colocamos ali de frente com aqueles quatro cavaleiros do apocalipse e pensamos: mataríamos alguém que amamos para salvar o restante da humanidade? Existe uma resposta correta para essa pergunta? Se tivéssemos à nossa frente um grupo de pessoas que amamos e temos que escolher que morrerá, o que faríamos? São perguntas cruéis e que nos machucam um pouco simplesmente por pensar nestas possibilidades. Mas as vezes, mesmo que não nessa mesma proporção, elas acontecem no nosso cotidiano. Quando temos que escolher entre pessoas que amamos, quando há brigas entre nossos entes queridos e precisamos fazer uma escolha dificil entre um lado e outro. Tudo isso são questões éticas, o que “Batem à porta” faz é levar esse dilema até as suas últimas consequências.
Afinal, existe uma resposta certa entre escolher entre matar o amor da sua vida ou a humanidade inteira?
Quem está de frente com esse dilema ético é a família Andrew(Ben Aldridge), Eric (Jonathan Groff) e Wen (Kristen Cui) que recebem inesperadamente a visita de quatro estranhos em uma cabana e que são informados por eles que o mundo vai acabar e a única salvação é de que um dos membros da família decida se sacrificar. A explicação para isso? Não tem. Simplesmente é assim. Como a maioria das coisas que acontecem no mundo real, as vezes, não existe uma explicação, elas simplesmente são assim.
E é ai que está o grande êxito do novo filme de Shaymalan, não precisamos de grandes explicações e nem mesmo de um grande espetáculo visual, o que precisamos é de uma boa história contada de uma forma que faça sentido dentro daquele mundo e que nos entretenha durante o tempo do filme. Alias ele conseguiu não apenas fazer isto como também nos deixar curioso pelo que aconteceu antes com todos aqueles personagens e com o que aconteceu depois com todo o resto do mundo.
Inclusive, o filme é baseado no livro “O Chalé no Fim do Mundo” de Paul Tremblay e, mesmo que eu tenha lido que há algumas importantes diferenças entre o filme e o livro, me deixou com uma extrema curiosidade de ler o livro, para ver mais deste embate ético e conhecer mais da história dos personagens que estão envolvidos nesse dilema.
Em linhas gerais o filme funciona por ser simples e objetivo, não há saída do foco da história e nem da questão ética da trama. Tudo gira em torno daquelas pessoas que foram passar um período na cabana e estão agora encarando o fim do mundo e uma escolha cruel e avassaladora. Foi um Shaymalan diferente para mim, mas ainda assim foi uma bela surpresa.