A infância e a adolescência são momentos importantíssimos da nossa vida. É lá que fazemos amizades e passamos por situações que impactam diretamente em que seremos enquanto pessoas adultas e vivendo nossas próprias vidas. E sempre que eu penso em filmes que retratam este período e em o quanto ele é importante na nossa formação enquanto seres humanos me vem a mente as obras baseadas nos livros de Stephen King. Mais especificamente em “It” e “Conta Comigo”. O primeiro mais pelo livro do que pelo filme, já que há mais momentos para desenvolver as experiências das crianças e, posteriormente, como elas foram impactadas por todas aquelas situações. Já “Conta Comigo” eu penso muito na adaptação, em quanto aquela aventura foi importante para aquelas pessoas, e o quanto aquelas boas – e más – memórias foram cruciais para a vida de todos daquele grupo de crianças que foram caminhando por entre os trilhos atrás de um corpo.
Esses dois filmes e esse pensamento foram o que me veio a mente enquanto eu estava assistindo ao belíssimo “Close” de Lukas Dhont. Na história acompanhamos duas crianças, Léo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav De Waele), dois amigos de escola extremamente proximos e que fazem de tudo junto. Praticamente inseparáveis em suas vidas, rotinas, estudos e pensamentos. Acontece que em um certo dia, o grupo de amigos dos dois começa a tirar sarro da amizade dos dois, de forma a deixar Léo tão incomodado que ele começa a se afastar de Remi de uma forma tão abrupta que ninguém entende muito bem os motivos – aliás, nem mesmo Léo parece entender.
Infelizmente a amizade dos dois tinha um peso enorme na vida deles, e o afastamento foi demais para aquelas crianças e o que aconteceu foi a pior coisa possível. É dolorido, mas não vou dizer aqui para não contar demais sobre o filme, só que pode despertar certos gatilhos em que está assistindo.
É um tipo de filme que eu gosto e tem um motivo bem simples para isso: me faz sentir algo. Seja dor, culpa, alegria, tristeza, ou o que for. Neste, em especifico, me fez sentir dor. Ver a amizade dos jovens se deteriorarem por conta de preconceitos sociais – já dentro das crianças – é algo dolorido de se ver.
E no filme vemos tudo pela ótica de Léo, de como ele se incomoda pelos comentários proferidos pelos seus colegas, até as dores que sente. Sua culpa pela relação de amizade ter chegado ao fim, sua culpa pelo o que fez Remi sentir e por tudo que aconteceu. Aqui, assim como nas obras que eu citei no primeiro paragrafo, podemos imaginar o quanto esses acontecimentos influenciaram a vida posterior daquelas crianças – sobretudo a de Léo.
“Close” é um filme sobre amor, talvez na sua forma mais pura e de como ele vai se corrompendo por conta das pessoas e das situações que estão acontecendo na sua volta. É um filme sobre dor, sobre como essa dor pode ser prolongada e auto infligida por pensamentos e ações. É sobre ser criança e não entender o quanto nossas atitudes impactam a vida de quem está ao nosso redor – e as vezes, esse impacto, é tão grande que vai ecoar pelo resto de nossas vidas.
Me lembrei daquela frase de Rousseau de que as pessoas nascem boas e que a sociedade os corrompe. Pois parece que a todo momento estamos vendo aquela relação que só tinha coisas boas sendo corrompidas pelas visões de quem está de fora, de quem não sabe o que são aquelas crianças. Me parece que nós vamos vendo toda aquela boa relação, tudo aquilo que realmente podemos caracterizar como algo genuinamente bom se transformando em algo doloroso.
Mas no final é isso. Amor e dor se entrelaçam. Alegria e tristeza andam juntos. Vida e morte, e tudo isso que pode parecer clichê, mas, convenhamos, só é clichê pois é verdade.