Considero uma tarefa difícil escrever sobre os filmes do Robert Eggers. Pelo menos é para mim. Seus filmes são todos cheios de metáforas, simbolismos e enigmas que muitas das vezes me fazem questionar o que entendi completamente de uma cena ou da história como um todo. Foi assim com o “A Bruxa”, com “O Farol” e também com o seu último filme, “O Homem do Norte”.
Mas aqui, é claro, eu não acredito que esse entendimento ou falta dele impacte na avaliação final da obra ou de Eggers como diretor. Não podemos colocar nas costas de um cineastas a nossa falta de entendimento e por isso taxar um filme de ruim. Ou ainda, quando somente poucas pessoas entenderam o enredo ou alguma cena de um filme, colocarmos na caixinha de filmes que consideramos “obras primas”. Sinto que, infelizmente, as discussões sobre as obras de Eggers acabam indo somente por esses dois caminhos, ou é uma obra prima do nosso século, ou é só mais um filme ruim superestimado. Essas discussões empobrecidas, acabam também empobrecendo a obra.
Eggers não é um cineasta qualquer, suas obras tiveram impacto no cinema e ele soma uma boa parte de fãs no cinema de horror. “A Bruxa” é um filme que, com todos os seus simbolismos, virou uma unanimidade em muitos meios de discussão de cinema de gênero. Bom ou ruim, o filme com seu estilo foge dos sustos fáceis e constrói uma história arrepiante com poucos elementos e cenários. Já em “O Farol” vemos o isolamento e as lendas marítimas levando dois homens a mais insana situação. Uma mistura de folclore, histórias de marinheiros e horror cósmico.
Em “O Homem do Norte” a história é um tanto mais simples do que os filmes anteriores. O enredo gira em torno de uma vingança. Amleth (Alexander Skarsgård) jura vingar a morte de seu pai (Ethan Hawke) e o sequestro de sua mãe (Nicole Kidman), ambos cometidos pelo tio (Claes Bang). No meio da história Amleth conhece e se apaixona por Olga (Anya Taylor-Joy) e juntos planejam a vingança contra o tio.
Como de costume nos filmes do cineasta, as coisas não são tão simples. A história tem suas reviravoltas – mesmo que um tanto quanto obvias – e todas as cenas são repletas de simbolismos da cultura nórdica. Eggers trabalha muito bem essas cenas e toda as lendas que permeiam as personagens. O diretor usa muito bem as panorâmicas para mostrar e representar os personagens dentro desses simbolismos. Por exemplo, sabemos que o combate final e a derradeira vingança acontecerá próximo ao fogo, e a câmera fica subindo e nos mostrando o vulcão prestes a entrar em erupção.
Não é uma obra prima, como muitas pessoas tentam vender o novo filme de Robert Eggers, porém não é um grande amontoado de lixo superestimado que tantos outros estão dizendo. Me parece, na verdade, uma obra madura do diretor, onde ele volta aos seus dois filmes anteriores para utilizar alguns signos mais trabalhados na sua nova obra. Vemos os pássaros de “O Farol”, a bruxaria, o sabbath e outros elementos que nos foram mostrados em “A Bruxa”.
Eggers parece um diretor em constante evolução, para o bem ou para o mal. Espero para ver como ele vai trabalhar e se desenvolver nos seus próximos trabalhos.