Quero começar esse texto com uma afirmação que vai nortear um pouco meu pensamento sobre o novo filme de Pedro Almodóvar: adoro filmes que tratam sobre acontecimentos políticos , principalmente, os que buscam resgatar a história de pessoas que foram mortas por regimes ditatoriais.
“Mães Paralelas” já começa com um assunto que, assim como na Espanha, precisamos também fazer aqui no Brasil, a de encontrar os corpos de pessoas que morreram durante as ditaduras. Janis (Penélope Cruz) é uma fotografa e enquanto está tirando fotos de um antropólogo forense (Israel Elejalde) pede sua ajuda para cavar onde o seu avô foi enterrado após ser assassinado pelo exercito falangista ( que era comandado por Francisco Franco). Com a relação de ambos se estreitando, eles acaba se relacionando e Janis fica grávida do antropólogo que, até aquele momento, era um homem casado.
Aqui a jornada de Janis se mistura com a de Ana (Milena Smit), ambas estão juntas na maternidade esperando o momento de suas filhas nascerem. Através da dor e das dificuldades que ambas passam durante o parto e com o nascimento de suas filhas, elas acabam criando um companheirismo e uma relação muito forte, como se uma sempre entendesse os sentimentos e pelo que a outra está passando.
Como era de se esperar, quando ambas deixam o hospital acabam vivendo suas vidas e se esquecendo um pouco da relação que criaram ali. Mas, por terem trocado os números de telefone voltam a ter contato. E aqui as coisas começam a ficar mais sombrias, pois descobrimos que os bebes das duas foram trocadas na maternidade.
Em meio a tudo isso o filme de Almodóvar me parece ter uma “mensagem” – não sei se posso chamar assim -, que é: mesmo que seja dura e quase intragável, a verdade liberta. Mesmo que não seja o que queremos ver, precisamos encarar e buscar essa verdade.
Não é de interesse de ninguém a morte de um ente querido, mas, é importante que os corpos de pessoas assassinadas pelo Estado sejam encontrados para que se tenha um fim e que os responsáveis sejam culpabilizados por isso. Comentei do caso brasileiro pois, assim como na ditadura franquista, nem todos os mortos da ditadura que ocorreu aqui foram encontrados, e há diversas pessoas no nosso país que ainda estão na mesma posição das pessoas do filme: de não saber onde estão e nem poder enterrar os corpos de seus parentes.
Almodóvar consegue fazer e trazer, no meio de todo esse contexto, o amor. Na sua forma mais pura. As duas mulheres se amam. Não apenas de corpo, mas com a alma. O sentimento de companheirismo nascido na maternidade cresce e, depois de um tempo, vira um amor puro. Não o sentimento de posse, mas o sentimento de querer o outro bem. E só o fato da outra estar bem já é, por si só, uma grande recompensa para aquele que a ama.
A filmografia do diretor sempre foi politica, já tratou sobre diversos temas importantes, sempre com maestria que só uma lenda do cinema poderia fazer. Muito bom estar vivendo para poder ver Almodóvar fazer filmes.