Assisti ao filme “Narrativas do Pós” do Jairo Neto quando ele esteve presente aqui no Festival Cinefantasy, mas acabei não escrevendo sobre ele naquela ocasião. Vou aproveitar que estou fazendo essa incursão pelo nosso cinema para enfim refletir um pouco sobre este documentário.
São muitos os pontos de partida das discussões do documentário : quais serão as narrativas do pós? Há possibilidades de ainda criar narrativas distópicas depois de termos passado por tudo isso que estamos passando durante a pandemia? Qual é e qual vai ser o papel da ficção científica dentro do mundo depois de tudo o que vivemos durante esses anos enfrentando o coronavírus?
Nem todas essas perguntas têm respostas. O que temos são realmente pontos de partida que refletem essas problemáticas. O documentário é formado por entrevistas com pesquisadores e escritores refletindo sobre algumas das perguntas que eu citei ali em cima e com imagens do cinema e da história da cultura pop. E estamos sempre ouvindo as notícias do mundo contemporâneo e manifestações de pessoas com os ideais que levaram o atual presidente ao governo. Essas falas representam, talvez, a parte mais de “horror” – pensando na conotação da palavra mesmo, aquela sensação de repulsa e aversão -, ainda mais se lembrarmos de onde vieram aquelas frases e das consequências que aquele pensamento causou.
Dos inúmeros debates que podemos tirar das falas dos entrevistados, talvez o que mais me interessa é o do quanto uma obra reflete o seu tempo. Se eu não me engano foi Stephen King quem escreveu que todo o filme de terror reflete os medos da sua época e eu não poderia concordar mais com essa frase. Os filmes que estão sendo produzidos e realizados nos dias de hoje já tem o coronavírus e a própria pandemia como uma presença nas narrativas.
Na verdade a pandemia é um elemento que soma uma parte das narrativas que estão sendo produzidas nos dias de hoje. A internet e a conectividade entre as pessoas já é algo bem recorrente no cinema contemporâneo. Podemos lembrar do “Buscando” de 2018 e dirigido por Aneesh Chaganty que conta uma história de crime e desaparecimento, mas toda pela ótica das redes sociais. “Host”, que já foi tema aqui nessa coluna é passada totalmente no aplicativo Zoom e já tem a pandemia na sua história.
“Narrativas do Pós” é um trabalho sobre discussões. Deixa um gosto de querer ouvir mais sobre outros campos da arte e mais reflexões sobre o que virá depois de tudo isso. Parece que estamos chegando ao fim desse período de pandemia (mas ainda não acabou) e a pergunta fica: quais serão as narrativas do pós?
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Festival Cinefantasy no dia 29 de Novembro de 2021.