Dentre as inúmeras narrativas que podem ser escolhidas para contar a história de um filme uma que me atrai bastante é o da ideia de “antologia“. Dentro do horror é um dos meus subgêneros favoritos, mas confesso que foi uma grata surpresa quando vi, já na sala do cinema, que o novo filme de Wes Anderson, “A Crônica Francesa”, se tratava de um filme antológico.
Fui pego de surpresa por não ter lido nada sobre o filme antes de chegar ao cinema. Nem a sinopse. Sabia que tinha algo haver com o jornalismo e nada mais. No filme vemos a formação da edição da revista “A Crônica Francesa” e, através dessa edição, vamos conhecendo as histórias por detrás dos textos, matérias, tirinhas e colunas daquela revista. Somos guiados pelo editor da revista, não como um mestre de cerimônia e sim indo de uma texto a outro para fechar a edição da revista. Assim passamos de um segmento a outro.
O que mais me fascinou no filme é a habilidade que Wes Anderson tem de se moldar em cada um dos contos/textos/segmentos. Seja em uma história curta, seja em uma história longa, seja algo mais policial, seja algo mais romântico, seja algo mais pessoal, cada história parece ter uma linguagem e estilo diferente, mas ainda assim contém a assinatura de Anderson, como se o diretor estivesse nos mostrando que ele tem domínio sobre todas as formas de se fazer cinema e ao mesmo tempo conseguir manter sua autoralidade.
A utilização do preto e branco no filme me deixou um pouco confuso. Não vejo isso como um demérito do filme, na verdade, talvez seja uma falta de compreensão de minha parte. Em alguns momentos a dicotomia preto e branco/colorido parece ser para demonstrar o tempo passado e presente. Já por outro lado, parece demonstrar que em determinados momentos a razão parece predominar aquelas cenas e personagens (daí tudo fica preto e branco), porém quando as emoções começam a brotar e aparecer na histórias e nas pessoas que estão ali tudo parece ficar mais belo e mais nítido (daí o colorido). Pode ser que haja também uma outra interpretação e tudo isso que eu escrevi esteja errado (aí que vai ser bom rever o filme e tentar entender melhor o que o diretor quis passar com isso).
Todas as histórias são permeadas pela linha do cômico. Sempre há algo nas histórias para, por mais dramática que seja, que me deixou com aquele sorriso desconfortável no rosto, seja por ser constrangedor ou por ser realmente engraçado. Para os cinéfilos – publico cativo do cinema de Wes Anderson – vai se lembrar muito das comédias do cinema muda, onde a graça está mais no que estamos vendo do que nas palavras. O cômico é sempre pelas situações constrangedoras e por observações de fatos que estão acontecendo a volta daquelas personagens.
Além de assistirmos o que está por trás das matérias vemos também um obituário. Desde o inicio do filme e pela sinopse – acabei de ver, já que não tinha lido antes de ver no cinema – sabemos que o editor da revista morreu e que, com essa morte, a revista será descontinuada. Todo a construção do filme parece ser levada para termos respeito por esse editor. Não pela pessoa, pois não vemos nada dele fora do jornal, mas sim como um profissional. E claro, até nesse obituário há o cômico, com o corpo em cima da mesa de trabalho ao lado dos companheiros de trabalho escrevendo o obituário – não é algo gratuito, está tudo explicado.
Muito se falou sobre o grande elenco do filme, que realmente é fenomenal, têm Elisabeth Moss, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Switon, Timothée Chalamet, Owen Wilson entre outros. Mas parece que o que chama a atenção não são essas estrela conhecidas do mundo do cinema e sim as histórias que elas estão representando. Alias, algumas desses pessoas tem pouquíssimo tempo na tela.
“A Crônica Francesa” é um filme divertido e cheio de elementos interessantes que fascinam o olhar do cinéfilo e sem a pretensão de querer prever o futuro – o papel da crítica não é esse – parece ser o tipo de filme que vai ser revisitado e discutido futuramente. O que vai ser bom e anseio para que isso aconteça logo.