Na semana passada uma notícia deixou uma parte dos cinéfilos brasileiros atordoados, sem saber realmente o que sentir. Um possível remake de “A Meia Noite Levarei Sua Alma” de José Mojica Marins estava no horizonte da produtora de Elijah Wood, a SpectreVision. O que sentir e pensar de uma notícia dessa? De um filme da nossa cultura sendo refeito em outro país? De uma pessoa tão importante no cinema nacional como é José Mojica Marins? De uma figura tão presente no nosso imaginário como o Zé do Caixão? Tudo isso deixa qualquer cinéfilo confuso em relação aos seus sentimentos.
Não sou daquele tipo de crítico contra os remakes e releituras de filmes, muito pelo contrário, gosto bastante que haja esse movimento, vejo sempre a possibilidade de sair algo bom dali. E claro, o filme original sempre estará lá, o fato de existir ou não uma releitura não exclui e apaga a obra original. Vejo até, de certa forma, como uma homenagem ao trabalho do Mojica, que sempre foi um trabalho reconhecido internacionalmente.
“Cinema de Invenção” do Jairo Ferreira que fala sobre o cinema marginal tem uma frase que define muito bem o cinema de José Mojica Marins para mim, lá diz algo mais ou menos assim: “cada fotograma filmado por José Mojica Marins respira cinema” e eu considero impossível alguém ter assistido o “A Meia Noite Levarei Sua Alma” e não concordar com essa frase. Tudo ali é cinema na sua forma mais pura (ou impura?) possível.
Falando um pouco sobre a personagem do Zé do Caixão, é muito difícil achar alguém que não tenha em sua memória aquela imagem do homem vestido de preto e unhas grandes que aparecia na TV. Muito antes de assistir qualquer um dos filmes de Mojica já conhecíamos a figura antológica do Zé do Caixão. Depois de assistir aos filmes o fascínio pela personagem cresce ainda mais. É impossível – foi para mim – desgrudar os olhos da tela enquanto Zé do Caixão estava ali planejando fazer algo terrível, declamando sobre “o que é a vida?” e “O que é a morte?”. Principalmente depois de entender que toda essa forma representa a história do filme que iríamos logo assistir – afinal, veremos Zé do Caixão em busca da perpetuação do sangue e por consequência, continuar a sua existência. Cada fotograma, cada palavra, cada sílaba, tudo que foi feito por José Mojica Marins respira, emana, É CINEMA.
Cabe a nós esperarmos que essa possível releitura da obra do Mojica traga coisas positivas para a restauração de sua obra e claro, para a sua família, que detém todos os direitos dos personagens. No mais, a obra de Mojica sempre estará lá para que possamos assistir, existindo uma adaptação ou não.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy no dia 18 de outubro de 2021.