Todo texto, toda a crítica e toda e qualquer produção é pessoal. Não há um texto, seja ele sobre o assunto que for, que não traga dentro daquelas palavras a visão pessoal do seu autor sobre um determinado assim. Tudo que é produzido reverbera as posições morais e políticas – no seu sentido mais amplo – de quem escreveu. Cito aqui Paulo Emílio Sales Gomes e Jean-Claude Bernardet. duas referências da crítica brasileira que se complementam e expõem não só uma visão sobre o que estava acontecendo no cinema durante o período em que escreveram, como também mostram a visão do que estava acontecendo nas esferas da cultura e da política do país.
Comecei falando sobre as visões pessoais dos textos para dizer que o tema da coluna de hoje será ainda mais pessoal do que as anteriores, não sei se isso é possível, mas vamos lá. Estive em Salvador, na Bahia, recentemente, e como bom cinéfilo que se preze quis conhecer o cinema que leva o nome de um dos maiores cineastas do mundo, o Cinema Glauber Rocha. Claro que sabia tudo o que estava acontecendo lá, que não iria conseguir assistir nenhum filme naquele lugar e nem nada disso, mas ainda assim queria conhecer e estar ali. Fiquei triste em ver ele fechado, fiquei triste em conversar com uma pessoa lá e ouvir ela me dizer que não sabia como ia ser futuramente e que apesar das notícias nada está concreto. Essa tristeza com a situação da cultura e do cinema só passou quando consegui assistir um filme na sala de cinema do MAM e escutar que cada ingresso e cada produto comprado ali ajudaria na reestruturação das salas de cinema. Pensei então: a resposta é e virá do cinema.
É até de uma forma representativa que eu esteja falando sobre um tipo de resistência em relação a um cinema que leva o nome de um diretor tão combativo como Glauber Rocha.
Lembrei também da pandemia, de que quando mais precisamos nos isolar em nossas casas foram os filmes e as produções culturais em geral que nos manteve lúcidos. Nesse momento em que mais precisamos, a arte de um modo geral estava lá. Isso me deixou ainda mais certo de que a resposta está nesses tantos quadros por segundo que vemos exibidos nas telas. Seja ela qual for.
O cinema é amor, é romance, é comédia, e horror, e revolta, é tudo. O cinema é. Seja lá o que for, podemos nos encontrar dentro dessa coisa que chamamos de “magia do cinema”. Ali sempre haverá uma resposta para os nossos questionamentos.
Para terminar essa pequena carta ao cinema quero comentar brevemente sobre uma célebre colocação de outra referência da crítica, agora uma referência internacional, André Bazin. No seu texto “Mito do cinema total” ele escreveu que “o cinema ainda não foi inventado!” para dizer que nenhuma inovação do cinema devia ser tratada como inimiga da arte. Nesse período de pandemia tivemos que nos afastar daquela atmosfera da sala de cinema que tanto amamos e presenciar os filmes apenas no seus formatos digitais. Preciso usar como exemplo o Festival Cinefantasy, essa casa que abriga meus textos semanais, que em meio ao início da pandemia ousou colocar seu festival de um modo acessível para todos, todas e todes as pessoas do Brasil. Nos mostrando mais uma vez que as palavras de Bazin estavam certas, o cinema ainda não foi inventado. E acredito que dele virá muitas respostas aos nossos anseios. E essas respostas serão ainda mais inclusivas, plurais e… bem… mais cinema ainda.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy no dia 01 de novembro de 2021.
Suas aulas renovaram em mim o prazer pelo cinema, filmes sempre foram lugares de muito prazer e fruição para mim, para além disso tod auma acdeia produtiva de técnicos de som, gaffers, diretores, atores, montadores, roteiristas buscam trazer para tela aqueles minutos de magia que nos enraivecem nos deixam tontos e em busca do novo, do agradável, do medo e da alegria. Que neste Brasil , esta distopia sem final feliz que estamos vivendo , o cinema possa ser nosso documento, nosso registro de tudo que estamos vivendo.