Um dos autores contemporâneos referenciais para muitos críticos e críticas e boa parte da cinefilia com certeza é Ken Loach. Fica um tanto difícil assistir a um filme que tem como cenário o mundo capitalista e a relação pessoas e trabalho no mundo capitalista e não se lembrar de obras como “Eu, Daniel Blake” vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 2016 , por exemplo. Ou de seu filme mais recente, “Você não estava aqui” de 2019. Também está nas minhas referências quando o assunto é essa relação de luta de classes o filme “Dois dias, uma noite” de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne. Assistindo ao filme português “No táxi de Jack” de Susana Nobre automaticamente me lembrei dos filmes de Loach e dos irmãos Dardenne pelo seu tema e abordagem.
Joaquim (Joaquim Veríssimo) é um homem que está próximo da aposentadoria e não tem emprego, para que consiga utilizar de seus direitos trabalhistas ele precisa cumprir uma série de exigências do governo. Um deles é o de provar que está em busca de emprego, tendo que andar de um lado para o outro e ter uma espécie de papel carimbado. Enquanto vemos essa caminhada de Joaquim escutamos suas histórias enquanto um imigrante nós Estados Unidos da América.
Ver um homem da idade dele sendo obrigado a ter que perambular pela cidade em busca de carimbos, que comprovam que ele não está parado, para que só assim ele consiga ter acesso ao seu direito é um forma do diretor mostrar que o sistema econômico em que vivemos tem suas contradições e cria situações degradantes para as pessoas conseguirem suprir as suas necessidades.
Um dos primeiros elementos que eu notei enquanto estava assistindo ao filme é o de Joaquim está deslocado em todas aquelas situações. A forma como ele se veste, como age, como fala, como contempla algumas paisagens, fazem parecer que aquele não é o seu lugar. Ele parece um elemento estranho em todos aqueles cenários. E em todo o filme com ele comentando sobre suas experiências nos Estados Unidos, faz ele parecer ainda mais deslocado ainda.
De um lado observamos um homem com valores do passado, que acredita na meritocracia e que com o fruto do seu trabalho irá conquistar tudo. Do outro lado vemos esse mesmo homem sendo oprimido por esse mesmo sistema em que ele vive e acredita. A dialética está no filme todo, a dualidade entre o discurso de Joaquim e a realidade em que ele está vivendo.
“No Táxi de Jack” está presente na 45° edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e me parece ser o tipo de filme que os fãs das obras que questionam o sistema econômico vigente irão gostar.