A morte é um assunto que me interesso, alias, acho difícil encontrar alguém que ainda não tenha se questionado sobre assuntos referente a morte. “Lidando com a morte” é um documentário holandês dirigido por Paul Sin Nam Rigter e que mostra a construção de um centro funerário que promete acolher os ritos de todas as crenças relacionadas a morte.
Documentários trazem um ar de seriedade, de realidade, de que aquele assunto é serio o bastante que levou uma pessoa – ou um grupo – mobilizar uma câmera e uma equipa para documentar aquilo. Acho interessante pensar a prática da realização de um documentário com a prática antropológica, entender o estudo de uma determinada situação ou de um povo e entender o quanto a simples presença de um antropólogo ou de uma câmera influi nas diferentes reações. Fico pensando se aquelas pessoas realmente agem daquela forma ou se estão fazendo aquilo por estarem sendo presenciadas por um observador. Tanto o antropólogo quanto o documentarista são uma presença naquele local, podem apenas estarem observando, mas a presença deles já constitui um elemento novo naquele cenário e isso influi em como aquelas pessoas irão agir.
Em “Lidando com a morte” vemos Anita percorrer as diferentes regiões e diferentes culturas procurando entender como funciona os preparativos ritualísticos de morte para cada um delas. Não só isso, mas também levantar dados, parceiros e possíveis clientes para o centro funerário. Por um lado é interessante observar Anita conhecendo essas culturas, procurando entender os rituais, como eles funcionam, as motivações dele, a razão de tudo que está sendo feito, tudo isso é algo interessantíssimo de se assistir. Já por outro lado, vê-los depois assistindo as imagens que foram filmadas e rindo de alguns comentários feito pelas pessoas me deixou um pouco incomodado. As imagens deles com as pessoas, entendendo os rituais e conversando contrasta de forma bem clara com as imagens deles em reunião. A morte para eles é só um negocio, como qualquer outro. Parece pouco importar, de fato, todos aqueles ritos.
Essa dualidade me parece ainda mais clara nos minutos finais, quando Anita já não está mais no projeto e diz que saiu por não sentir que seja mais algo dela e sem um empreendimento comercial dos seus parceiros. É realmente o que pareceu para mim desde as primeiras reuniões, um empreendimento comercial sobre a morte.
Para aqueles que gostaram do filme ou que simplesmente querem refletir um pouco sobre a morte, os rituais, entender um pouco de como as coisas são feitas e de um maneira um tanto quanto filosófica – acho que, de certa forma, até mais que no documentário – recomendo o livro “Confissões do Crematório” de Caitlin Doughty e também os outros livros dela onde ela aborda todas essas questões levantadas rapidamente no documentário.
“Lidando com a morte” ganhou o prêmio de melhor documentário holandês no IDFA e estará presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.