Em 2019 com “Parasita” de Bong Joon-ho vimos uma família de uma classe baixa adentrando na vida de uma família de classe rica, não importando quem fosse ferido ou prejudicado por isso. Me lembrei do filme de Bong Joon-ho quando estava assistindo “A Taça Quebrada”, o personagem de Roberto tenta de qualquer forma entrar na casa e na vida de sua antiga namorada e filho, tal como um parasita.
Um pequeno resumo: Roberto está separado há dois anos de sua namorada, Clara. Ao que dá a entender no filme, Roberto abandonou Clara e o filho dos dois, Julian, deixando-os com a casa. Certo dia ele aparece de volta e tenta reconquistar tudo o que perdeu em um dia. E é isso que vemos, o dia em que um homem decide invadir a casa e a vida de sua ex companheira e assumir as responsabilidades que abandonou.
É agoniante ver as interações de Roberto com Clara e Julian. Primeiro por Roberto estar de fato ultrapassando uma linha perigosa, ele vai se instalando na casa em que ele abandonou e deixando em todos uma sensação de insegurança. Roberto pouco se importa que Clara está seguindo a sua vida, pouco se importa se sua presença ali impactará de forma negativa na vida dela ou do filho dos dois, quer apenas estar ali. É ele de fato representando o papel de um homem abusivo que não aceita a felicidade do outro.
Inclusive ele praticamente assume aquela casa e vida como algo realmente dele. Dorme na cama, toma banho e chega a até utilizar a roupa de Maxi, o atual namorada de Clara. Tudo isso por não aceitar que ela tenha, enfim, seguido em frente.
“A Taça Quebrada” , nome do filme, é representada por uma xícara quebrada no início do filme, Roberto vê essa “taça” quebrada e usa uma cola para consertar-la, como se com isso fosse também consertar a vida que abandonou. Queria ele que fosse algo tão simples assim, tanto que quando Clara volta de seu trabalho, uma das primeiras palavras que Roberto diz é que consertou a taça.
Para encerrar o filme que a todo momento te deixa desconfortável com as interações entre as personagens, os três em uma mesa comendo cachorro quente, com Roberto feliz e comunicativo enquanto observamos Clara apática e perplexa com toda aquela situação. Igual a nós, que estamos assistindo a toda aquela cena.
Apesar de não haver uma agressão física durante o filme está claro que ele trata de uma relação abusiva e de posse, por entendermos isso desde o começo passamos o longa inteira agoniados, ansiosos e com medo do que poderia acontecer ali naquela casa.
“A Taça Quebrada” é um filme chileno dirigido por Esteban Cabezas e estará presente na 45° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.