No dia 14 de Julho de 1918 nasceu o cineasta sueco Ingmar Bergman. Neste ano ele faria 103 anos se ainda estivesse vivo. Apesar de não termos mais a sua presença neste plano de vida, a sua obra continua muito viva. Na ocasião do seu aniversário me lembrei do primeiro filme que eu assisti dele, “O Sétimo Selo”.
Como não se interessar por um filme onde um cavaleiro chamado Antonius Black joga uma partida de xadrez com a morte? Talvez para um jovem jogador de xadrez (como era o meu caso) o fato de Bergman não ter desenvolvido tanto as partidas de xadrez tenha sido um pouco decepcionante. Mas os questionamentos levantados sobre fé, vida, lembranças e morte me fizeram me apaixonar pelo filme, e também pelo seu diretor.
O princípio do filme é algo que considero maravilhoso: o jogo não é para não morrer (mesmo que o cavaleiro interpretado Max von Sydow não queira morrer), mas sim para ganhar tempo. O problema não é a morte, mas sim deixar algo inacabado, morrer com algo mal ou não resolvido.
A Morte (interpretada inesquecivelmente por Bengt Ekerot) diz que é uma exímia jogadora de Xadrez, mas ela realmente é? Saberemos mais a frente que, enquanto o cavaleiro busca ganhar mais tempo, a Morte tenta descobrir os planos e jogadas que ele tem em mente. Isso para mim meio que soa como uma forma que a Morte tem de trapacear e sempre estar passos a frente de seus adversários.
Lembro de uma frase de André Bazin em seu famoso texto “Ontologia da Imagem Fotográfica” onde ele diz que “a morte não é senão a vitória do tempo”. O que vemos aqui então é a tentativa de um jogador ganhar no campo adversário. Antonius Black está tentando ganhar tempo jogando com a morte. Que louco isso né? Bom não sei vocês, mas eu acho. Talvez toda essa maluquice que eu tô dizendo aqui (é maluquice?) Me fez gostar mais ainda de um filme que eu já adorava.
Além de todas essas questões, ainda há, é claro, questionamentos a respeito da fé e da vida. Mesmo que não tenha tido a quantidade de partidas de xadrez que o Euller gostaria de ter visto, pelo menos, teve as inquietações filosóficas que eu gostei de ter visto e pensado naquela época, como também gostei de rever nos dias de hoje.
Dizer que os filmes do Bergman são excelentes é a mesma coisa que dizer que a água é molhada, é uma coisa óbvia. “O Sétimo Selo” é um filme fantástico, não só na narrativa e forma, mas também em qualidade. Assista, reassista, discuta e tudo mais que for possível, para mim rever Bergman é sempre um presente e uma sensação única.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 19 de Julho de 2021.