É algo bem clichê dizer que nada é mais alto do que o som do silêncio, não é? No entanto, isso não deixa de ser verdade. Quando o filme de John Krasinski “Um Lugar Silencioso” chegou aos cinemas, o que mais ouvimos e/ou lemos sobre ele era a pesada atmosfera que se sentia na sala de cinema. Todo e qualquer barulho, por menor que seja, atrapalhava alguém que estava imerso naquela história.
Um pequeno resumo da sinopse: criaturas estão soltas na terra. Elas matam e destroçam qualquer um que faça um barulho. Por menor que seja esse barulho, ele atrai uma manada dessas criaturas em busca da origem do som. Por isso, todo o longa é construído através da atmosfera do silêncio, sabemos que todos os barulhos causados ali (e acabamos levando para dentro da sala de cinema também, afinal, nos identificamos tanto que em pouco tempo já estamos completamente imersos naquela história) podem ser os últimos a serem ouvidos durante essa vida. A ansiedade ao assistir o filme aumenta gradativamente quando percebemos que a família que vamos acompanhar está esperando um filho.
Presenciamos um mundo novo, não há hospitais e não pode haver barulho. Só aí temos grandes problemas. Como uma pessoa conseguirá ter um filho sem gerar nenhum barulho sequer? Mesmo que todos ali tenham noção do que está acontecendo, um bebe recém nascido não têm, como fazer para que ele não chore? Se chorar, como proteger ele de todas aquelas criaturas? São perguntas que são respondidas no filme, mas mesmo assim nos trazem uma enorme sensação de insegurança.
O filme de Krasinski é um ótimo exemplo de como o cinema pode se utilizar de todas as técnicas e ferramentas para fazer um bom filme. Quase não há diálogos falados em “Um Lugar Silencioso” e mesmo assim conseguimos entender e compreender todas as cenas e sensações que uma personagem nos passa. Krasinski entendeu – nesse primeiro filme – que o dialogo falada não é tão importante quanto muitos o julgam. As imagens falam por si só.
É claro que eu não posso deixar de falar sobre Millicent Simmonds, uma atriz que é surda (desde os onze anos de idade), onde com certeza, dá o toque necessário para fazer do filme um clássico dos últimos anos. Além de trazer para o filme uma vivência em relação a uma vida sem o som, ela consegue nos entregar uma atuação que poucas pessoas conseguiriam. Ela está simplesmente incrível no filme.
Não acredito que haveria necessidade de se fazer uma parte dois de um filme que consegue nos dizer tanto sobre cinema, como é o caso de “Um Lugar Silencioso”. De qualquer forma, se há algo que podemos dizer com certeza é de que esse é um dos melhores filmes do gênero realizado na última década.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 12 de Julho de 2021.