Assisti “Acqua Movie” em uma cabine de imprensa virtual, não tinha lido nada sobre o filme, sabia apenas que era do diretor Lírio Ferreira que dirigiu “Sangue Azul” que é um filme que eu gosto bastante.
Vemos a história de Cícero (Antonio Haddad) que é filho de Jonas (Guilherme Weber) e de Duda (Alessandra Negrini), a mãe está em uma viagem produzindo um documentário sobre povos indígenas na Amazônia, o que acaba causando dificuldade de relacionamento entra a ela e seu filho. Enquanto Duda está nessa viagem, Jonas acaba tendo um ataque cardíaco e consequentemente morre.
Depois que Jonas é cremado começa uma discussão sobre o que será feito com as cinzas do pai. Cícero têm a ideia de levar as cinzas para a cidade onde o pai havia nascido, que era chamada “Rocha”. Acontece que essa cidade foi inundada e a família de Jonas se mudou para uma nova cidade e que foi chamada de “Nova Rocha”. Nesse percurso, “Acqua Movie” se torna uma espécie de “filme de estrada” onde vamos observando a vida acontecendo por entre as janelas e as paradas durante a viagem. Além de vermos a relação se estreitando entre os dois.
Observamos todos esses acontecimentos pela ótica de Duda. Ela é uma pessoa que defende os direitos dos povos indígenas e a cidade destino dos dois é um local que está com conflitos entre os indígenas e os fazendeiros com atitudes coronelistas. Esse núcleo do filme tem debates e cenas interessantes, principalmente por colocar o embate entre Duda e a família de Jonas, tudo se torna mais interessante pelo fato de Cícero estar no meio e não entender muito bem toda aquela situação. A ingenuidade misturada com a veemência e a importância dos argumentos de Duda, como também o olhar documental que ela tem torna toda a situação bem mais interessante.
Para além do assunto, a forma de como o filme emana a presença do pai morto de Cícero durante toda a viagem é bem interessante. Primeiro pela forma que as cenas foram filmadas, que em alguns momentos faz com que temos a sensação de que há mais uma pessoa na tela. Não só há essa sensação causada pelo movimento das câmeras, como também há uma presença quase metafísica causada pelas cinzas de Jonas. Tanto nos momentos em que Cícero está com o pote nas mãos quanto nos momentos ritualísticos relacionados a passagem da vida para a morte.
Mesmo que em alguns momentos temos a sensação de que o filme poderia ter discutido mais os assuntos que ele levanta durante a obra, ainda assim é um filme que tem seus méritos narrativos e técnicos. Ele estreia no dia 10 de Junho de 2021.