Alfred Hitchcock é cinema. Sempre que estou pensando nos filmes dele, logo me pego pensando em uma história que François Truffaut conta no clássico livro de entrevistas com Hitchcock. Ele diz que estava nos Estados Unidos e um crítico lá perguntou o que ele e outros críticos franceses viam em Hitchcock, que ele era um diretor comercial e que “Janela Indiscreta” não tem nada de Nova York e que por não conhecer Nova York esse seja o motivo desses críticos gostarem tanto do filme. Sobre isso Truffaut responde que pode não conhecer Nova York, mas conhece cinema e “Janela Indiscreta” é sobre isso.
Quem já viu “Janela Indiscreta” sabe do que estamos falando. É um filme sobre um fotojornalista que se vê na posição de voyeur, obrigado a assistir vários filmes que se desenrolam através da sua janela. Ele é tão expectador quanto nós.
Mas não é sobre isso que vamos falar hoje, mas o cinema de Hitchcock é tão amplo que não poderia começar esse texto sem dar a introdução que ele merece.
Falaremos hoje sobre “Os Pássaros” lançado em 1963 e com a presença de Tippi Hedren interpretando Melanie Daniels e Rod Taylor como Mitch Brenner. O filme conta a história de um fatídico dia em que os pássaros decidiram todos se virar contra os humanos e atacá-los com uma ferocidade mortal.
Alguns podem estranhar eu estar falando sobre esse filme em uma coluna sobre filmes fantásticos, mas, ninguém sabe qual foi o motivo dos pássaros terem se rebelado contra a humanidade. Foi a revolta da natureza? Foi outra coisa? Algo sobrenatural? Não sabemos, os pássaros simplesmente começam a atacar tudo e todos da cidade.
A direção de Hitchcock, como sempre, é primorosa. Há cenas muito marcantes e que depois de ver é muito difícil que elas saiam da sua cabeça. Uma delas, que sempre quando penso no filme logo me vem, é a de quando Melanie está esperando sentada em um banco, logo atrás tem aqueles brinquedos de se pendurar, a câmera fica mudando do rosto dela para o brinquedo e a cada mudança aparecem mais pássaros, sem ela perceber. A vontade enquanto espectador e de gritar para que ela olhe para trás e corra. É magnífico.
Há também como fazer uma leitura mais social da obra. As pessoas estão tão presas quanto os pássaros em suas jaulas. Aliás, existe aí no filme uma inversão dos papéis. Os personagens agora são obrigados a trancarem em suas casas/jaulas enquanto todos os pássaros estão lá fora, livres.
O que me fascina em “Os Pássaros” é que ele não explica nada. Não sabemos como começou e muito menos como terminou. O final é aberto, ninguém sabe ou consegue imagine com precisão o que pode acontecer com aqueles personagens. Hitchcock consegue, mais uma vez, amarrar o público mas histórias que dirige como poucos – ou talvez nenhum outro – conseguiu ou consegue.
E é claro que não poderia terminar esse texto sem dizer que Tippi Hedren, protagonista do filme, acusou Alfred Hitchcock de abuso em uma série e posteriormente em sua autobiografia, vou deixar linkado abaixo uma matéria que fala mais sobre o assunto.
Material adicional
Vou deixar além do link com matéria sobre o caso da Tippi Hedren, indicação de pessoas que tem produção e cursos sobre Hitchcock.
Matéria sobre o assédio:
http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/11/atriz-de-os-passaros-revela-agressao-sexual-de-hitchcock-em-autobiografia.html
Marcelo Lyra dá diversos cursos sobre a obra do Hitchcock e está atualmente produzindo dois livros sobre o diretor. Um focado apenas em Psicose e outro que vai abranger toda a obra de Hitchcock.
Carlos Primatti também leciona cursos sobre Hitchcock e está planejando um que acontecerá no final de maio e início de junho pelo Cine Um. E junto com a Beatriz Saldanha organiza a publicação da Única – Estudos Hitchcockianos.
Link do Facebook Cine Um
https://www.facebook.com/cineumcursos/
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 10 de Maio de 2021.