Todos os anos sempre tento assistir aos filmes que concorrem ao prêmio mais desejado da noite do Oscar, o de “Melhor Filme”, nesse ano faltou dois filmes para que eu conseguisse terminar essa minha maratona, “Borat – Fita de cinema seguinte” e “Uma Noite em Miami”, ambos presentes no catálogo da Amazon Prime Vídeo. Finalmente consegui parar e assistir pelo menos o filme de estreia de Regina King na direção e me bateu aquele arrependimento de não ter assistido antes.
Que me acompanha ou está acompanhando o blog sabe o quanto eu levo em consideração os aspectos relacionados as questões políticas em um filme. Mas antes de comentar sobre essa questão – que na verdade é do que se trata o filme, um debate político – vamos falar um pouco do trabalho de Regina King. Ela foi a vencedora na categoria de “Atriz Coadjuvante” pelo filme “Se a Rua Beale Falasse” e também esteve na série “Watchmen” também como atriz. Agora, estamos presenciando o seu primeiro trabalho de direção em “Uma Noite em Miami”.
Algo ultimamente tem me feito gostar muito de filmes que são adaptações de peças teatrais, como é o caso de “Meu Pai” e do filme de Regina King. Talvez isso se deva ao fato de que estou um pouco cansado de explosões e superproduções e esteja procurando filmes mais intimistas ou que se utilizam mais de diálogos para representar os sentimentos. O curioso é que considero esses os trabalhos mais difíceis de direção, prender a atenção apenas com as falas em um período como esses em que estamos acostumados a grandes efeitos e produções carrega em si uma dificuldade e um problema que tem que ser solucionado pelos seus respectivos diretores.
Em “Meu Pai”, Florian Zeller se apoiou tanto no talento de Anthony Hopkins quanto nas jogadas de câmera e montagem que colocam o espectador no lugar de uma pessoa que está sendo consumida por uma doença que afeta a memória. Regina King também se apoia na qualidade técnica dos atores, mas também vai além disso, utiliza a importância histórica que e da relevância política que aqueles personagens tem e tiveram na história.
O filme imagina uma noite em que Cassius Clay (Eli Goree) -que posteriormente se chamaria Muhammad Ali -, Malcom X (Kingsley Ben-Adir), Sam Cooke (Leslie Odom Jr) e Jim Brown (Aldis Hodge) passam uma noite em um hotel após uma vitória de Clay e discutem o seu papel dentro do contexto histórico e político dos Estados Unidos. Repensando também qual é o papel de cada um na luta que estava acontecendo no país.
O contexto do filme e o discurso de King na abertura da cerimônia do Oscar 2021 se complementam e demonstram toda a importância que o filme e esse debate tem. Em um ano de tantas tragédias no mundo, era impossível que o caso de George Floyd não fosse citado e relembrado. Afinal, o tema do filme é a luta do povo negro e todo o racismo institucionalizado que existiu e ainda existe no Estados Unidos e no mundo, e foi o que matou Floyd.
“Uma Noite em Miami” aposta em monólogos e discussões para nos fazer pensar e repensar o mundo e os problemas causados pelo racismo. Há, é claro, momentos e situações que exemplificam o quanto é necessário todo o debate. Mas, ao que me parece, essas situações não foram pensadas para serem o foco da história, sendo tapas momentâneos de situações que ocorreram e ainda acontecem na realidade para demonstrar o quanto ainda é necessário discutir sobre o assunto.
Regina King começou sua carreira como diretora com um filme necessário. Mas não só isso, estreia com uma direção consistente que não perde a qualidade em nenhum momento dos seus 114 minutos. Ansioso para os seus próximos trabalhos.