Na série Dialética Crítica de hoje conversaremos com Ivonete Pinto, atual presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE). Vale lembrar que a ABRACCINE reúne diversos críticos importantes para o pensamento teórico e crítico do cinema, no site você consegue ser direcionado aos lugares onde estão hospedados os textos da maioria dos associados.
O site da associação também tem um material muito rico para estudos e pesquisas acadêmicas, lá você encontra diversas traduções de textos relevantes para a reflexão sobre o cinema e a crítica.
Você consegue encontrar os textos da Ivonete Pinto na Revista Teorema, na Revista Orson e no Cinema Escrito.
Uma observação antes de partimos para a entrevista. O único objetivo dessa série de posts é abrir diálogos com críticos que são amigos e pessoas que gosto de acompanhar o trabalho, não tenho pretensão de fazer nenhuma pesquisa mais elaborada ou coisa do tipo. No entanto, eu normalmente faço a mesma pergunta para entrevistados que dão aula de crítica de cinema, assim foi com o Marcelo Lyra, o Filippo Pitanga e agora com a Ivonete Pinto, é interessante notar as diferentes respostas deles.
ENTREVISTA
Euller Felix: A ABRACCINE está com uma aba no site com traduções, lembro de ter ouvido no podcast da associação de que isso tem muito haver com a busca de um diálogo com a pesquisa acadêmica, você pode falar um pouco sobre essa relação entre a crítica e a academia?
Ivonete Pinto: O podcast é uma iniciativa que vem da gestão anterior e não tem compromisso com a produção acadêmica, embora, claro, os debates sempre trazem informação e levam à reflexão. Já o projeto Abraccine Traduções é desta gestão, que iniciou em 2019 e termina em 2021. É um projeto que pessoalmente propus e estou encarregada. Minha atividade principal é na docência, fui professora em dois cursos de cinema e desde 2009 leciono no curso Cinema e Audiovisual na UFPel – Universidade Federal de Pelotas. Como acadêmica, criei e editei a revista Orson, que tinha por objetivo uma interseção com a crítica, na medida em que eram publicados textos de críticos de cinema vinculados à academia. Também na revista Teorema, que já tem quase 20 anos, temos como linha editorial o diálogo entre crítica-academia. Na Abraccine, senti a necessidade de uma maior interação entre os campos a partir de uma pesquisa interna que fizemos há um ano, que apontou que mais de 40% dos filiados também são acadêmicos. Seja como mestrandos, doutorandos ou professores já com titulação, são (somos) pessoas que atuam nas duas áreas. Então, o projeto das traduções atende a este diálogo, inclusive porque sabemos que existem muitos textos de autores estrangeiros, fundamentais para os estudos de cinema que ainda são inéditos. É bastante complicado, pois só publicamos textos autorizados e sem cobrança de direitos, então o processo é mais lento, quando não, precisa ser interrompido por falta de autorização. Em outro projeto, estamos promovendo cursos, sempre divulgados nas nossas redes sociais e no site. Uma das metas da gestão é investir na formação de novos críticos em um escopo de diversidade. Para tanto, priorizamos nas inscrições critérios de raça e gênero e oferecemos bolsas utilizando estes critérios.
Euller Felix: Como a atual presidente da ABRACCINE e professora de crítica de cinema você acaba lendo muitos textos de pessoas novas na crítica, o que você tem notado nesses novos críticos que estão surgindo?
Ivonete Pinto: Não sei se é possível generalizar uma tendência, nem nos textos dos alunos, nem dos que solicitam filiação. Há críticas muito boas, empenhadas, e há as críticas preguiçosas, limitadas a um resumão do filme. Poucos são os que arriscam reflexão mais original e poucos são os que estudam a história do cinema. A novíssima geração é alfabetizada com séries e é preciso correr atrás para conhecer as cinematografias mais canônicas, que deram a base do que vemos hoje. Quando Picasso começou a fase cubista, dando nova geometria aos traços de natureza realista, ele conhecia e sabia pintar um quadro em estilo clássico. Ele sabia pintar as pessoas e os objetos em sua aparência real. O exemplo, me parece, tanto serve para quem faz filmes quanto para quem escreve sobre filmes. Atualmente, além dos mais de 80 cursos de graduação em cinema e audiovisual, são inúmeros os cursos livres, as oficinas sobre cinema. Então, para ter conhecimento e um bom repertório e para exercitar a escrita, não faltam oportunidades. A grande, a enoorme vantagem de quem começa hoje em dia é que os filmes e os livros estão disponíveis. E na maior parte das vezes, gratuitamente, ao alcance do mouse.
Sensacional! Adorei a critica à critica não-critica. Concordo com ela sobre a importância de um retorno à historia do cinema ( e do mundo!). Não apenas para que não se suponha Novo aquilo que já é antigo, mas como forma de apreender as conexões entre a realidade, arte e artista.
Parabéns pelo trabalho, Euller!!