Duas coisas chamam a atenção de início em qualquer busca sobre o curta “A Voz Humana”: é um filme de Pedro Almodóvar e, claro, Tilda Swinton. Quem é fã e amante do cinema normalmente não perde a chance de ver uma obra de um cineasta como o Almodóvar. Filmes como “A Pele que Habito”, “Tudo Sobre Minha Mãe” entre outras são obras que fazem parte do repertório de muitos cinéfilos. Já em relação a Tilda Swinton, ela é uma atriz que eu costumo dizer que mesmo em filmes que eu não goste tanto, vale a pena ver só por ter ela. Um desses casos é o Suspiria do Luca Guadagnino, que eu não gosto, mas só de ter ela interpretando uma personagem já me faz ter vontade de rever o filme.
O curta é minimalista em relação ao que ele mostra e a sua história, que é baseada em um escrito de Jean Cocteau. O cenário é basicamente um galpão e dentro dele uma espécie de cenário de um apartamento. Os personagens são: Tilda Swinton e um cachorro. O que vemos na história é um monólogo de Swinton conversando no telefone com alguém que, pelo que dá a entender, terminou um relacionamento com ela de forma repentina.
Se por um lado há esse minimalismo em relação a cenários e materiais, por outro, a construção da história, a atuação de Swinton e a condução que Almodóvar faz é grandiosa. Desde o sentimento de raiva, passando por angústia, até uma ira violenta, tudo é muito bem demonstrado com o diálogo na chamada telefônica. Vemos todas as nuances, mudanças de pensamentos e tomada de decisões ali, naquele diálogo.
Não só tecnicamente em relação à atuação de Tilda a conversa é rica, como também em como conseguimos entender todos os sentimentos envolvidos entre aqueles dois personagens. Em um determinado momento do curta, há um diálogo sobre buscar o cachorro que foi deixado para trás, com Tilda, e a forma como ela fala dá a entender que o que realmente queria era que essa pessoa voltasse e a levasse com ele, usando a situação do cachorro como uma metáfora.
Quem estava ansioso aguardando “A Voz Humana” e, principalmente, quem gosta dos filmes de Almodóvar não perdeu nada por esperar. O curta é bonito e coeso esteticamente, as formas como todo é montado, desde os primeiros diálogos do filme e a relação de tudo isso com a construção da personagem e da história que estamos vendo é tão objetiva e clara que a única coisa que resta ali é a vontade de ver mais, de saber o que aconteceu depois.
Em tempos pandêmicos como o que estamos vivendo, ver esse filme é um grande presente.