Há uma brincadeira na internet de uma frase que diz mais ou menos assim: “estou cansado de presenciar fatos históricos”. De uma certa forma, isso representa o documentário de Anna Muylaert e Lô Politi “Alvorada“, um dos longas mais aguardados do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. O documentário presencia o momento histórico e os últimos dias da Dilma Rousseff como presidente do Brasil e detalha o cotidiano e a vivência da primeira mulher a governar o país. Ao mesmo tempo relata o cansaço que foi todo esse momento, não só por parte de Dilma, mas também de todos aqueles a sua volta.
O documentário se trata disso para mim, registrar esse evento histórico. Talvez por isso, pelo caráter de registro do cotidiano, da vivência e de como tudo isso estava impactando todas aquelas pessoas, algumas questões técnicas acabaram por serem deixadas de lado. Um exemplo disso são algumas cenas estáticas que não tem nenhum propósito narrativo, a não ser o de simplesmente registrar e documentar toda aquela situação.
Em um diálogo de Dilma com a câmera ela afirma que não é uma personagem, e de fato não é. Todos no documentário parecem ser personagens, menos ela. Conhecemos as pessoas que trabalham com ela, as pessoas envolvidas na sua vida e entendemos um pouco do cotidiano do Palácio da Alvorada, o que consequentemente, em questões de narrativa, faz parecer que a Dilma só está lá, passando de um lado para o outro. Isso é evidenciado nos momentos chaves do processo, nos depoimentos e nas sessões, ouvimos e vemos tudo junto com os funcionários, nunca vemos diretamente as imagens gravadas das transmissões.
Se o objetivo de “Alvorada” é ser um registro histórico de como as pessoas que estavam convivendo com a então presidente Dilma reagiram a todos esses acontecimentos, está tudo certo, o objetivo parece ter sido atingido.