Um dos clássicos mais conhecidos do horror e considerado um dos melhores filmes da década de 1980, “A Mosca”, dirigido por David Cronenberg mostra como é que se faz uma boa história de horror misturada com a ficção científica.
Seth Bundle (Jeff Goldblum) é um cientista que está desenvolvendo uma máquina que irá revolucionar o mundo. Ele promete conseguir teletransportar um objeto de um lugar a outro. Quando ele decide fazer um teste com ele mesmo, uma mosca entra sem perceber em sua máquina e acaba se fundindo em uma escala genética com ele.
Toda a história é simples, tudo acontece de forma clara e nada fica nas entrelinhas. Como é um filme que se passa em poucos cenários, também não há um grande número de atores (a pesquisa de Bundle é secreta, por isso ele trabalha a maior parte do tempo sozinho). Com esses elementos era necessário que não só o núcleo de personagens que iremos acompanhar fosse tão interessante quanto a própria história de teletransporte/horror/transformação, mas que também houvesse uma boa tratativa por parte da produção do filme para que ele não fosse exageradamente simples, o que com certeza iria tirar um pouco do charme que a obra tem. Essas questões foram resolvidas muito bem por dois motivos: a direção primorosa de Cronenberg e os efeitos de transformação de Bundle em mosca. Além de criar uma espécie de triângulo amoroso entre os personagens mais relevantes do filme para manter ainda mais a atração e curiosidade do público.
O horror que Cronenberg nos proporciona aqui é estritamente corporal, vamos observando a mudança que está ocorrendo no corpo de Bundle se transformando em uma mosca de tamanho humano. Toda essa transformação, é claro, é cheia de gosmas e sangue.
A transformação do personagem não é apenas corporal, é também psicológica. Ao mesmo tempo em que vemos o corpo dele se metamorfoseando, temos também uma transformação mental fazendo com que Bundle vá ficando cada vez mais enlouquecido e enfurecido. Esse caminhar da narrativa nos leva até um final empolgante e com uma carga de horror corporal digna do que já conhecemos de outras obras de horror do autor.
A ideia concebida em “A Mosca” e o horror corporal de Cronenberg marcaram época e influenciaram gerações e outros produtos do cinema e da televisão, vale lembrar que o filme ainda contou com algumas continuações, e também, com o célebre episódio de “Rick and Morty” em que eles chamam um mundo onde as pessoas adquiriam características de insetos de “mundo cronenberg”.
Não é exagero quando dizemos que “A Mosca” é um perfeito exemplo de como se utilizar os elementos comuns à ficção científica para criar uma boa história de horror. Também não é exagero dizer que o resultado só foi esse graças às qualidades indiscutíveis de Cronenberg como diretor e um dos maiores autores de histórias do gênero e do cinema em geral. Passa ano e mais ano e mesmo assim “A Mosca” deverá continuar como clássico absoluto em dois gêneros repleto de obras memoráveis.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 29 de Março de 2021.