Algo que eu sempre faço é acompanhar críticos e teóricos que pensam o cinema nos dias de hoje. Adoro acompanhar coluna de críticos em sites próprios ou portais, adoro acompanhar as críticas de pessoas que gosto ou tenho alguma afinidade.
Entre esses pensadores do cinema que eu acompanho sempre está o José Geraldo Couto, que escreve no Blog de Cinema do IMS. É um crítico que sempre acompanho e não perco nenhum texto. Estou sempre aprendendo a cada leitura e análise que ele faz.
Tive a oportunidade de fazer duas perguntas para ele sobre a sua relação com o cinema e com o ofício da crítica, confira abaixo:
ENTREVISTA
Euller Felix: Quando escrevemos sobre um filme brasileiro temos a chance de que nosso texto chegue até os cineastas que produziram o filme, o que nos dá a oportunidade de dialogar diretamente com quem está produzindo o filme. Você pode falar um pouco sobre o que você pensa desse diálogo? É importante essa relação crítico e cineasta?
José Geraldo Couto: Esse eventual diálogo com os realizadores tem um lado muito positivo, estimulante, mas tem também seus riscos e dissabores. O lado positivo é o enriquecimento crítico e o aprendizado que essa troca suscita, além da satisfação pessoal de sentir que, de alguma maneira, por mínima que seja, nosso olhar e nossa reflexão podem influir no cinema que se produz em nosso tempo. O risco é essa aproximação pessoal afetar o distanciamento crítico necessário diante de qualquer obra, ocasionando condescendência e/ou camaradagem no momento da avaliação crítica. O difícil é encontrar o ponto de equilíbrio entre o relacionamento cordial (e às vezes até amistoso) e a isenção crítica. No polo oposto, podem surgir rusgas, mal-entendidos e inimizades entre críticos e realizadores.
Euller Felix: Gosto de ler os seus textos por você sempre expandir o filme e trazer reflexões importantes sobre a obra, o autor ou o mundo em que vivemos, não tentando explicar ou mastigar o filme. Nesse sentido, coko você enxerga esse movimento de necessidade de explicação que encontramos com muita frequência nos dias de hoje?
José Geraldo Couto: A tentação de “explicar” a obra de arte, qualquer que seja esta, deve ser evitada sempre. No caso do cinema, o filme deve falar por si, e ninguém, nem mesmo seu autor, tem a explicação definitiva, a “palavra final” sobre ele. Cada filme desperta leituras e desdobramentos (intelectuais, emocionais) diferentes em cada espectador, de acordo com o repertório cultural deste, bem como de suas ideias e de sua sensibilidade. O crítico não pode ter a pretensão de deter a chave-mestra que desvenda todos os significados, todas as possibilidades encerradas num filme, por mais simples que este pareça ser. O que ele pode é chamar a atenção para aspectos que talvez passassem despercebidos numa visão mais desarmada e ingênua, de modo a munir seu leitor (no caso da crítica escrita) de instrumentos mais afiados para ter uma apreensão mais ampla, mais rica, da obra. É, em suma, contribuir para aguçar o olhar do espectador e, se possível, atiçar a sua imaginação e a sua inteligência.
A Foto dessa postagem foi retirada do perfil do entrevistado