Já vai completar um ano que estamos (ou deveríamos estar) em isolamento por causa da pandemia do coronavírus. Por isso, é muito difícil encontrar alguém no mundo que a essa altura ainda não tenha, nem que seja uma única vez, conversado ou participado de uma reunião por meio de algum aplicativo, seja ele qual for. Até por esse ser o único meio seguro hoje em dia de se comunicar e se reunir em grupos.
O cinema sempre vai representar o mundo em que estamos vivendo. Em alguma medida um filme sempre vai trazer elementos do período em que ele está sendo produzido. Não é de se espantar que a procura de filmes que discutem o isolamento ou o enfrentamento de alguma doença em escala mundial tenha aumentado e esteja sendo notada nas diversas plataformas de filmes no último ano.
“Host” está dentro dessa esfera. Ele é um filme que se utiliza da linguagem do cinema de horror para falar sobre a pandemia e o isolamento. E de certa forma, repensar os clichês do gênero para um mundo mais conectado e virtualizado.
É importante destacar que “Host” não é a primeira produção que busca atualizar as narrativas audiovisuais para o mundo dos computadores. Isso já aconteceu tanto em outros filmes (sejam de horror ou não), seja em episódios de séries de TV. O mérito do filme, talvez, seja o momento oportuno e a qualidade da sua história, que ao mesmo tempo é simples e cumpre muito bem o que propõe.
O que temos é a história de um grupo que decide fazer uma reunião via o aplicativo “Zoom” para tentar contactar espíritos. Quando conseguem, percebem que aquilo que “atendeu” a sua chamada não era algo bom e isso traz enormes consequências para todos os presentes naquela chamada.
É Interessante a forma que o filme se utiliza das convenções do gênero para atualizar as linguagens do horror na esfera virtual. Basicamente tudo que conhecemos dos filmes de horror está ali. Jovens fazendo besteira e depois sendo punidos por isso. Uma pessoa que está ali para guiá-los diante daquela aventura. O maligno que se manifesta em lugares que não esperamos. Tudo que estamos acostumados a ver nos filmes de horror está em “Host”, atualizado para o contexto da pandemia.
Não é meu objetivo dizer ou tentar prever quais serão as tendências do cinema e do audiovisual em geral nos próximos anos, mas é bem provável que haja novos filmes que irão debater assuntos relacionados aos dilemas sociais que vivemos hoje. Seja a pandemia, seja os resquícios que vão ficar após o fim dela, seja o isolamento, ou qualquer outro tema relacionado ao coronavirus.
O cinema é uma arte, e como todas as manifestações artísticas, sempre vai existir. Mesmo que o contexto histórico, social e político não seja favorável.
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 22 de Março de 2021.