A arte em geral virou uma fuga neste período de pandemia. Com o isolamento as pessoas voltaram seus olhos para os filmes que passam nas TVs, com os livros que estavam parados nas estantes e, principalmente, com os lançamentos das inúmeras plataformas de streaming que temos à disposição. Em alguns momentos não são lançamentos, mas sim redescoberta que de tempos em tempos aparecem nos catálogos e nos relembram o quanto um filme que não víamos há tanto tempo é bom. Em outros são aqueles que estampam na capa o logotipo da plataforma e que, na grande maioria dos casos, não passam de filmes medianos.
Um desses novos filmes e que parecem sinalizar para a onda de produções que imaginam um mundo enfrentando algum mal pandêmico é o “Awake” dirigido por Mark Raso. Aqui vemos um mundo enfrentando um evento que impede as pessoas de dormirem. Depois de um tempo as pessoas começam a sofrer alguns efeitos dessa falta de sono, principalmente comprometendo o raciocínio lógico e a clareza mental.
O interessante é que em alguns momentos o filme parece ter sido escrito por Stephen King. Há diversos personagens e situações que se assemelham a obra de King. Os fundamentalistas religiosos que decidem matar uma criança, acreditando que sacrificando ela as coisas vão voltar ao normal. As explicações dos fenômenos que causaram toda a situação que impede os personagens de dormir. E, claro, a explicação de como contornar todo esse caos.
Pela atmosfera stephenkingiana do filme e dos personagens a história acabou fluindo muito bem, toda a conspiração e toda a sensação de desorientação causada pela montagem e pelas escolhas de filtros borrados e câmeras tremidas dão ao espectador a identificação de como seria estar naquele lugar de acordados sem a esperança de conseguir dormir.
Todas essas questões são somadas com a afeição criada com os personagens centrais e pelo fato de que a única pessoa que consegue dormir dentro daquele núcleo que estamos vendo é uma criança. Há aquela aflição entre as personagens de o que irá acontecer quando todos morrerem pela falta de sono e a criança ficar sozinha naquele mundo caótico. Pessoas de “bem” surtando, alucinando e atacando uns aos outros. Prisioneiros sendo libertados das prisões e destruindo a cidade, entre outras coisas fazem do mundo um lugar hostil para qualquer pessoa, imaginem para uma criança.
Por fim, o filme não é nenhuma obra prima, a resolução é bem simples – o que acabou desagradando algumas pessoas – mostrando que na maioria das vezes basta saber formular as perguntas para saber qual é a resposta certa. Há personagens que poderiam ter sido melhores utilizados e desenvolvidas, mas assistir um caos ficcionalizado é uma boa forma de nos distrair e repensar o caos que estamos vivendo no mundo real
Texto originalmente publicado na coluna Mundo Fantástico na página do Cinefantasy em 21 de Junho de 2021.