Emerald Fennell é uma diretora que estreou na direção com um filme que eu, particularmente, não sou um grande entusiasta, “Bela Vingança”. Mas, mesmo assim, foi o filme que entregou para ela um Oscar de roteiro. Se tem algo que eu acho importante em premiações como a do Oscar é a possibilidade de novos projetos surgirem a partir desse reconhecimento. E o próximo projeto de Fennell após seu prêmio foi “Saltburn”, uma espécie de sátira de classes.
“Saltburn” conta a história de Oliver (Barry Keoghan) que se aproxima de Felix (Jacob Elordi) na universidade e, graças a essa aproximação ele é chamado para passar o verão na mansão Saltburn e viver uma vida de nobreza fora de época em um mundo que parece não ser o seu. Nisso vemos o quanto Oliver se aproxima da família de Felix e busca adentrar cada vez mais naquele mundo.
Essa pequena sinopse do filme pode nos remeter ao filme “Parasita” de Bong Joon-ho e tem lá as suas semelhanças. Oliver inclusive age como um parasita dentro daquela família, não só buscando se firmar em todos os momentos como parte de tudo aquilo que está a sua volta, mas também por suas ações destruírem aquele ecossistema aristocrático por dentro se ser percebido. É um tanto diferente do filme de Bong Joon-ho, pelas ações e motivações dos personagens, mas também pela construção do filme.
Outro paralelo que podemos fazer é com um filme de horror de 2019, “Ready or Not” (o título do filme no Brasil é Casamento Sangrento) de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Esse me parece até um parelelo mais justo, pois é um filme que também satiriza uma família aristocrata, só que aqui ele faz seguindo as convenções do cinema de gênero.
“Saltburn” tenta demonstrar tanto ser uma sátira de classes sociais, com aqueles personagens ricos que vivem literalmente em um outro mundo, com conversas e formas de lidar com a vida que nos parecem estranhas (por não vivermos daquele jeito) e familiar (por reconhecer aquelas ações, falas e jeitos de pessoas que realmente existem) ao mesmo tempo. Quanto também uma narrativa de um jovem que busca se infiltrar naquela vida que não é a dele, e que em circunstâncias normais, nunca seria. O desejo que Oliver tem para conseguir sair de sua classe social e entrar em uma mais alta é um metamorfoseado em desejo sexual, tanto que ele tem diversas atitudes que demonstram e se explicam dessa forma.
Há algumas reviravoltas interessantes, que não são necessárias serem adiantadas aqui, mas que fazem sentido durante a história. As mudanças se explicam facilmente quando vamos conhecendo mais daquelas pessoas que estamos acompanhando, principalmente o personagem de Oliver. Quanto mais conhecemos ele, mais entendemos suas ações durante o filme.
O problema dessas reviravoltas é algo que acontece também no filme anterior de Emerald Fennell, o filme continua e continua que parece que perdeu a hora de acabar. Esse talvez seja o maior problema de “Saltburn”, ele se estende e se explica mais do que seria necessário. Por essa extensão, o filme parece ser dividido e em um determinado momento pareceu que estava assistindo a uma outra obra, e que “Saltburn” já havia terminado.
Ainda assim vi uma evolução de como Fennell contou essa história, o que me deixou ansioso para seu próximo filme e para confirmar se ela realmente está indo em um caminho que vai nos trazer filmes mais interessantes, tão bons e até superiores a “Saltburn”, só resta aguardar.